Rui Schiochet, um exemplo para incentivar quem tem vontade

Para o 1º de Maio não poderíamos trazer melhor exemplo que um grande trabalhador do ramo da metalurgia, senhor Rui Schiochet, homem que passou a vida sendo procurado por ser referência no que fazia

“Cavalo encilhado não passa duas vezes”. Acreditando nisso, o senhor Rui Schiochet aproveitou bem as oportunidades de sua vida profissional, tornando-se um exemplo bem-sucedido da evolução conquistada pelos conhecimentos proporcionados pelos cursos que fez e pela dedicação com a qual aplicou estes conhecimentos em sua trajetória. “Não sei o que as pessoas viam em mim, mas não dispensei nada do que apareceu”, diz o ex-metalúrgico que ganhou a confiança de homens como o senhor Francisco Stedile, fundador da Fras-le e Raul Randon, comprador da empresa nos anos 90.
Vindo de família grande, eram 11 filhos do casal Fiorando e Irma, sem muitos recursos, recebeu o incentivo do pai para conquistar o que queria. “Eu queria ir à missa com sapatos e camisa Volta ao Mundo (o que havia de mais notável na época). Então, o pai disse para mim e mais três irmãos cortarmos lenha e vender para termos o que queríamos. Foi muito suado! Em seis meses juntamos 100 metros de lenha e carregamos para a beira da estrada para venda. Nos roubaram tudo”, conta discorrendo sobre o início das grandes lições que aprendeu.
A sorte começou a mudar quando o tio Nelso Basei o levou para morar com ele, fazendo-o cursar Senai. Foi este mesmo tio que foi à Fras-le pedir emprego para o sobrinho. “Me colocaram em um torno, já que eu tinha feito cursos de desenho, ajustador e torneiro mecânico. Fiquei por quatro anos até que Francisco Stedile viu algo em mim e me deu a oportunidade de fazer novos cursos. Fui a Porto Alegre estudar máquinas hidráulicas. Estudei, me dediquei e me especializei”, orgulha-se o senhor Rui.
Voltou para a Fras-le sendo referência de profissional e com isso viajou para muitos lugares a trabalho. Viajava com o dinheiro da empresa e na volta, mostrava as notas e prestava contas ao senhor Stedile, que depositava mais e mais confiança no profissional. “Eu viajava para arrumar máquinas, com material eu me atracava e consertava, sem me importar se ia noite adentro. O importante era que dava certo ”, menciona ensinando outra lição.
Tanta dedicação gerava reconhecimento e por diversas vezes o senhor Rui foi homenageado no hotel Samuara, onde “aconteciam boas festas”. A proximidade entre o empregado e o senhor Stedile era grande. “Eu era o braço direito”, complementa.
Segundo o senhor Rui, a sucessão familiar da Fras-le naquele tempo fez os negócios decaírem, foi quando apareceu Raul Randon na história. “A dívida da Fras-le era grande e o Raul Randon marcou uma reunião, da qual participei, assumindo a dívida, que deveria ser paga em três anos se não, ele ficaria com a empresa. Foi o que aconteceu”, relata.

A confiança de Raul Randon
“A partir de hoje a Fras-le é minha e o senhor continua comigo porque já vi sua ficha toda”, relembra, mencionando Raul Randon. “Naquela época, eu queria me aposentar, mas ele não deixou”.
Senhor Rui foi atrás de alguém para substituí-lo, explanando suas intenções a Randon. Conseguiu. Treinou a pessoa por seis meses e disse ao chefe que ela estava pronta. Antes de sair, depois de ter ficado na empresa por mais de 25 anos, ganhou uma viagem de 30 dias, com tudo pago, pelo Brasil, prêmio por tempo de casa. “Ao sair, disse ao Randon: se precisar de mim pode me chamar que venho arrumar máquina para o senhor e não vou cobrar nada”, conta, lembrando que foi chamado – “só para ver se ia mesmo”, mas não precisou.

Outras empresas
Parou três dias na chácara onde mora até que apareceram pessoas de outros países atrás de seu profissionalismo e desta forma foi trabalhar para a empresa Ito, de tratores. “Montei uma equipe e ganhei um bom dinheiro naquele tempo”, acrescenta.
De lá para a Mecal, empresa que emendava madeiras, de dois empresários caxienses. “Viajava e instalava as máquinas. Fiz uma feira, demonstrando o funcionamento de uma máquina e as vendas da empresa aumentaram muito. Viajei por dois anos e meio”, diz ainda relatando histórias de voos e viagens, sendo marcante uma que fez a Porto Velho, Rondônia.
Quando saiu da Mecal ficou parado por um dia, pois empresários chineses vieram atrás dele para o trabalho com injetoras de plástico. Chegou a trabalhar por um tempo, mas desistiu quando se deu conta da concorrência desleal que os chineses faziam com empresários de Caxias do Sul.
Esta trajetória intensa de trabalhos bem-feitos, na qual ainda ficaram de fora alguns relatos, fez com que as pessoas viessem atrás do senhor Rui, sem que ele precisasse um só dia buscar emprego. Quando achou que descansaria… “Bateu lá em casa um francês que queria montar uma fábrica de pães em Farroupilha. Montei as máquinas para ele”, ri.

Senhor Rui e dona Gema, do encontro no jogo de bola para a vida toda. FOTO: Claudia Iembo

Família
O metalúrgico bom de serviço casou-se com dona Gema, em 1976. Teve um filho, Tiago, falecido aos 22 anos em um acidente de carro. O filho deixou a neta Emilim, de cinco anos na época, que morou com o avô até há pouco, aos 17 anos. (Durante a entrevista, o celular do senhor Rui tocou duas vezes: era a neta aguardando o avô para levá-la às compras do novo negócio que ela está montando junto a uma tia, segundo a explicação).
Das memórias com dona Gema contou que ia visitá-la a cavalo em Monte Bérico. Se conheceram em um jogo de bola e fizeram a vida juntos. “Construímos uma bela casa e outra, onde morava meu filho, lá na chácara, na Linha 30. Hoje quem ocupa a casa é um irmão especial que tenho”, comenta.
Aos 73 anos, bom em lembrar nomes e acontecimentos, senhor Rui ainda exibe a sagacidade nos olhos abaixo do boné companheiro. Hoje, lida na terra que é sua, fruto do seu trabalho.
Sabedoria para aconselhar não lhe falta e com tantas conquistas vindas seu próprio esforço, não hesita em dizer: “Para dar certo a pessoa tem que ter em primeiro lugar, honestidade; em segundo, não se importar com o horário até que o trabalho esteja finalizado e bem-feito e claro, procurar cursos para ser bom no que faz. Tenho orgulho da vida que tive e muita gratidão, especialmente pelo Francisco Stedile”, finalizou depois de uma boa conversa – e pronto para atender a neta que o aguardava.
Rui Schiochet foi e é referência para muitas pessoas, na vida profissional ou fora dela.

REPORTAGEM: Claudia Iembo