Sonhos e realidades – Homenagem de Glória Menegotto aos 145 anos da Imigração italiana – 20/05/1875 – 20/05/2020

Crippa, Radaelli e Sperafico no início de 1875 na região de Milão – na Itália – sonhavam com terras, família,

Crippa, Radaelli e Sperafico no início de 1875 na região de Milão – na Itália – sonhavam com terras, família, paz e prosperidade. Estes sonhos eram inatingíveis na região onde moravam, até o dia que souberam que no distante Brasil o sonho poderia se tornar realidade. Os sonhos se transformam em realidade quando se opta pelo caminho, muitas vezes perigoso, áspero, sofrido, mas que ao se tomar a resolução de enfrentar, custe o que custar, precisa do primeiro passo. Quem vai? Quando? Como? Por quê? Todas eram  perguntas a serem bem analisadas. Mas não eram só essas pessoas. Havia as famílias, a exposição de todos a uma viagem perigosa e o desconhecido nas novas terras. Os sonhos estavam a perigo, mas eram cruciais, quase questão de vida ou morte. Precisavam de muita garra e otimismo e contar com os companheiros de viagem. As mulheres sabendo que metade do trabalho e a responsabilidade dos filhos estavam sobre seus ombros. Destemidas, corajosas, sonhavam com seus filhos crescendo e se multiplicando no que seu imaginário seria uma linda terra, fácil de plantar e conseguir seu sustento, uma visão do paraíso. Não era o seu marido o mais importante, como mães eram seus filhos que a arrastavam para a aventura. 

 Em abril iniciou a cruzada, a aventura, o sacrifício. O navio sem conforto, balançando durante um mês, borrifando água salgada e comida escassa, o frio e odores ruins, vendo famílias perderem pessoas que nem viram a costa do Brasil. A maneira de aquentar era colocar estas lembranças num compartimento da mente, onde ficariam para sempre  mas não obscureceriam a esperança. Esta sempre deve ser a última a morrer.

Em maio os aventureiros encontraram um início de inverno, muito mato, solidão, medo dos bugres e animais estranhos. Aprenderam a comer pinhão e construir uma morada, rústica no início, mas que estava difícil de falar em “lar”. As histórias tristes e alegres se somaram; novos italianos, alguns vizinhos alemães da zona do vale, em baixo da serra, uma igreja, depois um padre, batizados e casamentos conforme as leis da igreja católica. Até que veio a estrada de ferro, caminhos rústicos com carretas e até caminhões, o progresso quando os lampiões deram lugar a lâmpadas elétricas e fábricas, além de água encanada não mais tirada de poços ou da calha das casas quando chovia. 

Escolas municipais, das irmãs do Colégio São Carlos e do Ginásio São Tiago com educação religiosa, o cinema do Bolognesi, o Hospital do farmacêutico Dionisio Cibelli e mais tarde, do Dr. Jayme Rössler e Hospital São Carlos, construído pela comunidade e administrado pelas irmãs Carlistas. Ambos com médicos de origens variadas. E apareceram bancos comerciais, posto de saúde, vinícolas, fábricas de calçados e malhas, ao ponto de ser destaque nacional. O comércio expandiu, as estradas se multiplicaram e alargaram, os jovens buscaram conhecimento universitário e a cidade transformou-se num polo de desenvolvimento junto com outras cidades vizinhas, com sotaque italiano, cultura, culinária e alegria através dos cantos e danças típicas. Quase toda a população canta aquele que é quase um hino regional italiano que cita bem claro o espírito dos sonhadores que bradavam…”América, América, América, cosa será questa América”…

Hoje Farroupilha tem cerca de setenta mil habitantes, maioria de origem italiana mas com alemães, polacos, pessoas de todos os lados das Américas, Europa, África, Ásia…batendo o coração mais forte ao cantar o Hino do Rio Grande do Sul, torcer pelo seu time de futebol ou participar das romarias de Caravaggio. 
Faz 145 anos que essa terra progride, moderniza, é amada, com a visão voltada para o futuro e a promessa de que os sonhos continuam e a realidade será cada vez melhor.