5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente: Para onde nós vamos?

No próximo dia 5 de junho, quarta-feira que vem, transcorre o Dia Mundial do Meio Ambiente, instituído pela Assembleia Geral das Nações Unidas em resolução de 15 de dezembro de 1972, na abertura da Conferência de Estocolmo, na Suécia, com o tema “O Ambiente Humano”. Todos os anos, nessa data, diversas organizações da sociedade divulgam manifestos e tomam medidas para relembrar ao público geral da necessidade de preservação do meio ambiente

Silvestre Santos
silvestre@ofarroupilha.com.br

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Com os recentes adventos climáticos que flagelaram 473 dos 497 municípios do Rio Grande do Sul, causando perdas materiais de montante incalculável, com quase duas centenas de óbitos confirmados, uma pergunta se impõe: para onde nós vamos? Com o propósito de comentar o assunto, a reportagem do Jornal O Farroupilha conversou com a professora e engenheira Délma Tânia Bertholdo, mestra em Recurso Hídricos pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Confira como foi:

Jornal O Farroupilha – O que os eventos climáticos do final de abril e começo de maio deixam como ensinamento para a população, de um modo geral?

Tânia BertholdoApesar das perdas de vidas humanas e animais, dos enormes prejuízos materiais, precisamos repensar a ocupação do solo: não dá mais para tolerar construções dentro dos limites de proteção dos rios e outras fontes de água. A força das águas é poderosa e há milhões de anos vai traçando seu percurso. No caso da nossa região acidentada, onde o rio passou ele vai continuar passando e aumentando cada vez mais, pois os sedimentos elevam o fundo dos rios. Empreendimentos industriais, comerciais e turísticos, se insistirem nessa ocupação muito perto dos cursos d’água, devem se precaver porque as enchentes irão se repetir, infelizmente. Vi um empreendimento turístico de nossa região que tinha a coluna de sustentação da sua estrutura praticamente sobre o rio – não adianta reconstruir no mesmo lugar, precisa aprender com a tragédia, respeitar a natureza e repensar toda a sua estrutura.

Jornal O Farroupilha – Aquecimento global, camada de ozônio, desmatamento na Amazônia, são alguns dos temas que há anos têm sido abordado por ambientalistas. Dá para dizer que, embora não sejam questões novas, elas estão cada vez mais novas diante do que está acontecendo?

Tânia BertholdoDepende do ponto de vista de quem está sendo impactado por essas questões. Se alguém desmatou uma grande área para plantar uma monocultura, por exemplo, obviamente afetará todo o ecossistema do entorno, criando um “problema” novo, mas que é consequência de sua intervenção. Se eu construir minha casa numa encosta tenho que saber que um dia tudo pode ir morro abaixo com uma chuva em excesso, parecendo um “problema” novo. Mas são questões complexas porque a ocupação humana em área de riscos, muitas vezes, é resultante da exclusão social e da especulação imobiliária. Grandes eventos climáticos se tornarão cada vez mais recorrentes e precisamos parar de achar que nunca irá acontecer conosco – quem imaginaria tamanha inundação na Região Metropolitana de Porto Alegre? Então as temáticas abordadas há muito pelos ambientalistas, muitas vezes vistos como os vilões do “progresso econômico”, são leituras da natureza, que nos ensina todos os dias a preservar o que ainda temos e a buscar o equilíbrio dos estragos que muitas ações humanas provocam. Precisamos de indústrias? Sim, mas elas devem ter um sistema completo de tratamento de seus resíduos e não se localizarem às margens de rios e regiões inundáveis. Se esse equilíbrio não se verifica, essas temáticas que nós sempre chamamos atenção se tornam “novas” para quem ainda não as percebeu.

Jornal O Farroupilha – O que dizer às pessoas que acreditam que as mudanças climáticas e tragédias como a que flagela o Rio Grande do Sul nas últimas semanas, nada têm a ver com as ações humanas que já são debatidas há algumas décadas?

Tânia BertholdoEssa questão, de suma importância, se transformou em um debate político de baixíssimo nível, o que lamento muito porque tira a seriedade que precisamos para uma discussão séria e para a busca de soluções que contemplem todas
as camadas sociais, de todas as regiões do país – os excluídos climáticos do Brasil já são muitos, não somente pela recente catástrofe gaúcha, mas também pelo Nordeste que convive há décadas com secas e desertificação que não tem mais volta! Gastamos muita energia tentando explicar o óbvio e desmentir a enorme quantidade de absurdos que pululam nas redes sociais e nas falas de muitos políticos. O negacionismo é algo que nos cansa ficar combatendo porque poderíamos canalizar essa energia para que as pessoas conheçam, se posicionem e valorizem a ciência – ela é fruto das observações e dados reais e visa, sobretudo, a proteção da espécie humana e do lugar que habitamos.

O que ele disse:

A previsão era que somente em 2040 atingiríamos 1,5 grau de aquecimento global. Infelizmente já atingimos este patamar, e as consequências estão sendo catastróficas e continuarão, com chuvas estremas e secas prolongadas. Basta ver o que presencamos em nosso estado, em 2023, e, agora, de forma mais trágica, em 2024.

Analisar as consequências deste desequilíbrio é sinalizar o uso de combustíveis fósseis, o desmatamento e a ocupação irresponsável do solo. Destruímos APPs, assoreamento, utilização em larga escala de agrotóxicos que impermeabilizam o solo, a flexibilização das leis ambientais, e o negacionismo ambiental se somam para esse desequilíbrio.

José Antônio Pancotto – profissional de vendas, produtor orgânico, integrante da Afapan desde 1990 e presidente da entidade desde 2022.