A previsão de uma safra dentro da média continua
Marcio Ferrari, presidente do SINTRAFAR fala sobre o cenário da produção da uva nesta época de vindima

Na edição da última sexta-feira (13) publicamos reportagem sobre a vindima 2017. Na ocasião, entrevistamos o presidente da Associação Farroupilhense de Produtores de Vinhos, Espumantes, Sucos e Derivados (AFAVIN), João Carlos Taffarel, que falou sobre o período de cultivo da uva, as condições do mercado e as perspectivas de comercialização. Na edição desta semana, conversamos com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Agricultores de Farroupilha (SINTRAFAR), Marcio Ferrari. Marcio fez um balanço geral sobre a situação da uva no município: produção, preço no mercado, condições dos trabalhadores e infraestrutura rural (estradas, etc) entre outros assuntos.
Segundo ele, o inverno rigoroso e a primavera favorável, com muitos dias de umidade do ar baixíssima, facilitaram os tratos culturais. As previsões eram boas e até o início do verão indicavam uma safra de uva normal para esse ano. Depois de uma perda de 57% em 2016 – considerada a maior quebra desde 1969 –, a expectativa é que a produção no Rio Grande do Sul atinja 600 milhões de quilos de uva neste ano, cerca de 100% a mais se comparado ao ano anterior, quando foram colhidos pouco mais de 300 milhões de quilos.
Ele também explica que, devido ao retorno das chuvas frequentes desde a última semana de dezembro, a situação se inverteu, pois tais condições climáticas estão prejudicando a qualidade das variedades precoces, que já estão sendo colhidas, inclusive a uva colhida para consumo in natura. A previsão de uma safra dentro da média continua, o que está deixando os viticultores apreensivos é a expectativa de as chuvas diárias continuarem baixando a concentração de açúcares na uva, refletindo na desvalorização do produto.
Marcio ressalta que a conjuntura climática está prejudicando muito a remuneração dos viticultores que produzem a uva para o mercado, fazendo com que o valor recebido pelo quilo da uva Niágara Rosa fique aquém do esperado, atualmente em quase 50% do valor recebido na safra anterior. Já para a uva destinada ao processamento, seja para suco, vinhos, espumantes, moscatéis e outros derivados, existe uma grande expectativa, pois até o mês de novembro havia comentários, no meio vinícola, de haver um ágio de até 100% do preço mínimo para algumas variedades, complementa.
Em relação à safra deste ano, Marcio explica que o acordo setorial que definiu o preço mínimo da uva para a safra 2016-2017 foi um grande avanço, pois houve o reconhecimento, por parte da indústria vinícola, da importância do papel dos viticultores na cadeia produtiva da uva e do vinho. O acordo fechado proporcionou um aumento de 18%, passando de R$0,78 para R$0,92 para a uva Isabel de 15 graus babo, que é a referência devido ao grande volume produzido em nossa região. Na história do preço mínimo da uva nunca houve ganho real nos reajustes, esse foi de 10%, mais uma vez refletindo a importância da cultura da uva para a região nordeste do estado.
O presidente ressalta que existe consenso entre os sindicatos da região de que esse não é o valor ideal para os agricultores, visto que a infraestrutura necessária e a atualização tecnológica para manter a produção é muito cara. Quase todas as estradas do interior do município de Farroupilha são de terra, principalmente as mais distantes, o que encarece o transporte, e o pior é que nessa época de muitas chuvas não estão em condições boas, pondera.
Segundo o presidente, há ainda outras dificuldades na área rural, fazendo com que muitos agricultores vendam suas áreas (mesmo sendo zona rural) para cooperativas habitacionais. Cito a falta de sinal de internet e celular, que vai dificultar o cumprimento da norma estadual que obriga os agricultores, a partir de 2019, a emitir a Nota Fiscal Eletrônica na venda da sua produção.
Para Emater, inverno foi um dos melhores das últimas décadas
Se as condições climáticas continuarem favoráveis, a atual safra de uva na Serra Gaúcha deverá chegar a 790 mil toneladas, conforme estimativas da Emater/RS-Ascar, um volume 10% cima da média histórica e 160% superior à safra passada, que foi de apenas 304 mil toneladas. No quesito qualidade, embora as frequentes precipitações e baixa insolação a partir de dezembro tenham afetado a sanidade (podridões) e a concentração de açúcares (graduação) das variedades superprecoces (Vênus, Concord, Pinot Noir, Chardonay), as de ciclo precoce, médio e tardio ainda podem ter essa situação revertida, projeta o presidente da Emater/RS, Clair Kuhn.
Com exceção da Niágara, as demais cultivares, principalmente a Isabella e a Bordô, que representam mais de 50% da área cultivada na Serra, apresentam carga acima das suas médias. As condições climáticas foram fundamentais para a boa safra de 2016/2017. O engenheiro agrônomo da Emater/RS-Ascar, Enio Ângelo Todeschini, explica que o frio intenso e contínuo ocorrido da última semana de abril até o final de setembro caracterizou o melhor inverno das últimas décadas, tanto em quantidade quanto em qualidade, viabilizando uma excelente brotação de gemas vegetativas, tanto no número quanto na uniformidade dos brotos. Conforme registros da Embrapa Uva e Vinho, de Bento Gonçalves, houve um acúmulo de 530 horas de temperaturas abaixo de 7,2 graus — necessário para que a planta possa superar o estágio de latência — quantidade bem acima da média dos últimos 35 anos, que é de 410h, e muito além das 145 horas do último ano.
Devido aos baixos estoques de produtos da safra passada e ao incremento do consumo neste ano, motivado pelas condições típicas do inverno, o panorama é de valorização da uva, evidenciado pela precoce e forte procura do produto, finaliza Clair.