CLÓVIS TARTAROTTI – Farroupilha perde uma testemunha ocular da sua história

Faleceu na última terça-feira, aos 97 anos, o ex-prefeito e ex-vereador Clóvis Tartarotti

O município de Farroupilha e região estão de luto com a morte do seu ex-prefeito, Clóvis Tartarotti, ocorrida na última terça-feira, dia 25. Ele assumiu o cargo de prefeito do município em 1973 e durante seu governo foi criado o Primeiro loteamento popular do RS (atual bairro São José), organização da EXPOFAR, primeira Exposição e Feira do Município, Posto de Saúde Central, Parque da Imigração Italiana, Piscina Municipal no Parque dos Pinheiros, Quartel dos Bombeiros e vários outros empreendimentos pioneiros na época.

Tartarotti deixa um notável legado de ética e trabalho na vida pública. Ele estava internado com um quadro de pneumonia no Hospital Beneficente São Carlos (HBSC) desde o último dia 14 de dezembro. Foi um dos criadores e presidente da Associação dos Aposentados e Pensionistas de Farroupilha (Apopenfar), entidade na qual dedicou vários anos de sua vida como membro administrativo.

Ainda em 1975, quando ele era prefeito de Farroupilha, por ocasião dos festejos do centenário da colonização e imigração italiana, recebeu do governo italiano o título de Comendador. O político foi vereador por 17 anos, quatro vezes presidente da Câmara de Vereadores, professor do Colégio São Tiago por vários anos e um dos responsáveis pela instalação da Escola Técnica de Comércio, diretor da Companhia Intermunicipal de Estradas Alimentadoras (Cintea) e presidente da Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne).
Clóvis Tartarotti foi presidente da Câmara de Vereadores nos períodos 1956/1957/1958/1964 e prefeito de 1973 a 1977. Mas, muito antes, em 1934, quando o Distrito de Nova Vicenza se emancipava de Caxias do Sul, ele já acompanhava a evolução da política e da economia local.

A Câmara de Vereadores de Farroupilha completou 75 anos de história em 2011. E para comemorar a data, foi realizada uma programação especial no Plenário com a outorga da Medalha Ulysses João Castagna. A distinção, que leva o nome do primeiro presidente do Legislativo, foi entregue aos 39 ex-presidentes da Câmara. Em nome de todos os ex-vereadores, Clovis Tartarotti, que era o mais experiente e mais velho representante do Legislativo ainda vivo na época, usou a tribuna para fazer um discurso representando todos os homenageados.

Ele sempre destacou que, de 1956 pra cá, muita coisa mudou e evoluiu, tanto na Câmara de Vereadores quanto no município de Farroupilha.

Nos 90 anos de vida

Quando o ex-prefeito Clóvis Tartarotti completou 90 anos de idade, a Associação dos Aposentados e Pensionistas de Farroupilha (Apopenfar) resolveu fazer uma justa homenagem. Afinal, ele foi um dos fundadores da entidade, atuando cinco vezes como vice-presidente e por 17 anos como presidente. O evento teve missa no Santuário do Caravaggio às 10h30 e ao meio-dia foi servido almoço no Restaurante do Santuário.

O contabilista Clóvis Tartarotti dividia seu tempo entre a Associação e a sua casa. Era casado com a professora aposentada Norma, com a qual teve três filhos (Helena, Renato e Jorge). Sua rotina, mesmo com a idade avançada, se resumia em acordar cedo (sempre às 6h), fazer a barba e preparar o café. Depois, se dirigia ao oratório com imagens de Nossa Senhora e fazia suas orações. Sempre que podia, comparecia à missa no Santuário do Caravaggio. Por isso, o local preferido por ele foi o escolhido para a homenagem pelos seus 90 anos.
Perguntado certa vez até quando pretendia ainda se dedicar ao trabalho administrativo na Apopenfar, Clóvis foi taxativo: Meu filho, vou trabalhar enquanto Deus quiser e minha memória permitir.

Apesar de haver sofrido um infarto alguns anos atrás, o ex-prefeito não se assustou e continuava mantendo a rotina de trabalho. O ex-prefeito, que tinha memória privilegiada e estava sempre de bem com a vida, tinha uma boa receita para a longevidade. Ele considerava fatores importantes a boa qualidade de vida, dormir cedo, acordar cedo, ter uma boa alimentação e sem o vício do cigarro e de consumo excessivo de álcool. Um exemplo a ser seguido.

O ex-prefeito e ex-vereador tinha 13 anos quando surgiu o movimento pró-emancipação de Farroupilha. Ele estudava no 4º livro (como se classificava o estágio naquela época), frequentando o Colégio Nossa Senhora de Lourdes. Seu pai, Guerino Tartarotti e mais os tios, Vitório Tartarotti e Paulo Tartarotti, eram membros da comissão. Clóvis menciona que ouvia as conversas, mas como toda criança daquela época, se preocupava mais em estudar, ir ao cinema e brincar. Mas, com uma memória invejável que possuía, lembrava a euforia dos tios e os demais membros da comissão com a possibilidade da conquista.

Um fato relevante, segundo Tartarotti, é que o General Flores da Cunha estava em campanha no período que antecedeu a emancipação, buscando sua eleição para governador. E uma das promessas de campanha era conceder a emancipação de Nova Vicenza e outros distritos do Estado. Tanto que o nome de Farroupilha era para ser Getúlio Vargas, em homenagem ao presidente da época. Entretanto, os emancipacionistas fizeram questão que o nome fosse Farroupilha, por influência do empresário Angelo Antonello, líder da comissão. O nome Getúlio Vargas acabou sendo adotado por um distrito de Erechim.

O ex-prefeito recordava muito bem que para comemorar a emancipação foi realizada uma missa campal em um terreno onde hoje é o Banco Sicredi. Após, teve um grande churrasco em uma mata nativa nas proximidades da Estação Férrea. Tartarotti contava que participava de tudo, acompanhando a família. Mais tarde, o ex-prefeito foi estudar em Garibaldi e depois em Porto Alegre. Nunca imaginava que fosse chegar a vereador e prefeito um dia.
Ele trouxe à cidade o curso de Técnico em Contabilidade, juntamente com a Associação de Farroupilhenses e o Colégio dos Irmãos Maristas. Coordenou e foi professor da instituição por mais de cinco anos. As aulas eram à noite e facilitava para os estudantes que tinham outras ocupações durante o dia.

Tartarotti entrou para a política na redemocratização, em 1945, no partido União Democrática Nocional (UDN). Atuou como vereador durante 17 anos e, em seguida, de 1973 a 1977, assumiu a prefeitura de Farroupilha. Também ocupou a presidência local da Frente Agrária Gaúcha e, na década de 70 e da Companhia Estadual de Estradas Alimentadoras (CINTEA).