Viver é preciso
Existem histórias que não precisam ser detalhadas. Elas acontecem, sem que exista razão para explicá-las | CLAUDIA IEMBO | ESPECIAL

Existem histórias que não precisam ser detalhadas.
Elas acontecem, sem que exista razão para explicá-las
| CLAUDIA IEMBO
| ESPECIAL
Uma data comemorativa como o próximo domingo merece o compartilhamento de vivências capazes de transmitir algo forte, poderoso. Quem dera vivêssemos apenas bons momentos, protegidos de tudo aquilo que de alguma forma carregasse consigo a possibilidade de nos fazer sofrer. Quem dera…
Mãe alguma deveria perder um filho porque as mães simplesmente não foram feitas para tamanha dor! Mas elas enfrentam e continuam a caminhada, ainda que lhes falte um pedaço.
Delicado falar em perdas, mas elas fazem parte da vida e para algumas mães que viram seus filhos partirem, a distância é apenas temporária. A fé alimenta a esperança de um reencontro. Certezas que nada têm a ver com religião, mas com amor, puro e verdadeiro.
O tempo não leva a dor embora, mas ensina a conviver com ela. Sei que um dia haverá um reencontro, eu creio nisso, diz Rita de Cássia Sousa de Oliveira, mãe de Ritieli, Edmar, Elivelton, Ana Júlia e Isadora. Elivelton faleceu em 2003, aos quatro anos de idade, em um incêndio, iniciado pela explosão do aparelho de TV da casa em que a família morava.
Na época do acidente, as caçulas Ana Júlia e Isadora não eram nascidas. As meninas vieram para dar ainda mais força à mãe que continuou em pé por causa dos filhos.
Para quem pergunta a ela quantos filhos tem, a reposta é: cinco. E sempre será.
Minha família é meu porto seguro. Enfrentamos a tragédia unidos, cada um lidando com a dor do seu jeito. Sempre me perguntava: por que isso foi acontecer comigo? Não existe resposta, mas sei que Deus existe porque naquele dia minha família inteira podia ter morrido, afirma, olhando nos olhos, revelando a forma como conseguiu encarar a fatalidade.
Rita confessa que perdeu a conta do tanto que já chorou. Ainda hoje se assusta com barulhos fortes e tornou-se alguém muito mais alerta do que antes. Resquícios do que infelizmente viveu.
Aos 44 anos, a gaúcha, natural de Lavras do Sul, está há 30 em Farroupilha. Veio com os pais, que arrumaram trabalho por aqui. Casou-se com Pedro quando tinha apenas 15 anos. Ao lado dele continua a escrever sua história.
Acostumada ao trabalho, realiza-se costurando, principalmente vestidos para festas! Trabalho em uma confecção como modelista e piloteira e quando me aposentar vou me especializar em vestidos para festas, confessa.
Recentemente fez o vestido para a formatura da filha Ritieli. Orgulha-se! Serena, faz planos, sem esquecer o passado. O que sua família passou ficará marcado para sempre, mas ela encontra no sorriso de cada filho o que precisa para continuar.
Mulheres como Rita, que possuem a coragem de dividir suas histórias, nos mostram que viver é preciso e que sempre haverá razões para prosseguirmos.
No domingo, cercada de carinho, certamente agradecerá tudo o que possui, assim como faz, todos os dias, quem recebe o presente de ser mãe. Mas presente mesmo, recebemos nós, os filhos. Somos todos abençoados. Amor de mãe dura para sempre.