Em busca de milagres

Com frequência penso na quantidade de terapias e tratamentos que existem para praticamente todos os males. Do corpo e da

Com frequência penso na quantidade de terapias e tratamentos que existem para praticamente todos os males. Do corpo e da alma. Diariamente surgem notícias sobre novidades que aparecem no mercado. As redes sociais são pródigas em disseminar este tipo de conteúdo. A desesperança leva muita gente a se jogar de cabeça em experiências nem sempre sadias, muitas vezes transformadas em moda a partir de fake news vendidas como solução milagrosa.

A proliferação de palestras on line e de cursos para os males d’alma faz com que a curiosidade das pessoas esteja ainda mais aguçada. O fenômeno é tão incrível que filósofos ministram conteúdos em EAD – ensino à distância, situação inimaginável há alguns anos. Princípios filosóficos, considerados até então herméticos e limitado a especialistas, tornaram-se populares. 

Mario Sergio Cortella é um destes prodígios que os meios de comunicação transformaram em ídolo. Com simplicidade e usando situações do cotidiano como exemplo ele explica o comportamento das pessoas, as reações, virtudes e idiossincrasias humanas. Ao ouvir o filósofo nascido em Londrina, no Paraná, é impossível não se identificar com ao menos um momento vivido em nossa rotina.

Cortella tem um carisma raro, fruto de décadas de sala de aula e milhares de palestras ministradas. Por isso, é convidado para falar nos mais diversos ambientes – de encontro de especialistas no comportamento humano até imersões de empresas. Muita gente torce o nariz, outros veem nesta novidade uma porta a mais aberta na busca da autocompreensão.

Um amigo, há décadas trabalhando como representante de laboratório farmacêutico, confidenciou que nunca viu as salas de espera de psiquiatras, psicólogos e terapeutas em geral tão lotadas como atualmente. “Acho que o pessoal perdeu a vergonha e através da proliferação dos planos de saúde busca alternativas para minimizar seus sofrimentos”, me disse ele.

Domingo à noite, no programa Canal Livre, da TV Bandeirantes, assisti atentamente a entrevista do psiquiatra Rodrigo Bressan – a quem não conhecia – falar sobre depressão, luto, comportamento bipolar, ansiedade entre outros temas tão atuais como o uso do celular. Ele desmistificou alguns dogmas, como o uso massivo de medicamentos, considerado indispensável por muitos pacientes e profissionais. Bressan disse que cada paciente reage de maneira diferente e que o uso prolongado de algumas drogas causa dependência e a necessidade de aumentar as doses.

Neste mundo de exigências cada vez maiores e da necessidade de “parecer feliz”, a busca de milagres ganha força. Curandeiros, terapias alternativas e não comprovadas cientificamente e soluções mágicas proliferam. Todo cuidado é pouco para não abraçar novidades que, no final das contas, comprometem e agravam a saúde.