Aluga-se
“Sem poder atuar na pandemia, empresário vendeu carro para quitar dívidas”. Uma manchete que ninguém gosta de ler. A matéria,
“Sem poder atuar na pandemia, empresário vendeu carro para quitar dívidas”. Uma manchete que ninguém gosta de ler. A matéria, publicada num jornal gaúcho do qual sou articulista, relata o drama de um proprietário de ginásio esportivo que está impedido de trabalhar em razão da pandemia do coronavírus. Na Câmara de Vereadores de Cachoeira do Sul, um vídeo de desabafo de uma comerciante sobre a proibição de funcionamento de seu estabelecimento comercial após as 19h, foi apresentado durante a sessão: “Quem vai pagar nossas contas no fim do mês?”, questionou a empreendedora, com a voz embargada.
Eu me solidarizo com a dor dos empresários por que, há 22 anos, fui dono de uma quadra de futebol Society. E fico de cabelo em pé só de pensar como seria ter de manter o pagamento do aluguel, água, luz e o salário dos funcionários diante de uma receita zerada.
Além de ser ameaça à sobrevivência dos pequenos negócios, a covid-19 também coloca em risco os empregos. Desde o início da pandemia, Bolsonaro tem alertado que o Brasil tem dois problemas: a vida, o vírus e a questão da recessão. E, em sua tradicional live semanal no Facebook, o presidente voltou a defender a reabertura do comércio: “Temos a onda do covid sim, que leva a mortes, mas temos uma onda maior ainda que é o desemprego”.
Aqui em Caxias chama a atenção o aumento do número de artistas de rua, vendedores ambulantes, lavadores de para-brisa e pedintes nos semáforos e de placas de “aluga-se” que se espalham por boa parte da cidade. O que traz nova atenção a previsão: “No fim da pandemia, o Brasil terá mais falidos que falecidos”. Plagiando um poema de Mario Quintana que evidencia a publicidade da Coca-Cola através dos tempos: “Em todos os prédios, em todas as lojas, no ponto principal de todas as cidades, existe – e quem é que não viu? – aquela placa… De modo que, se esta civilização desaparecer e seus dispersos e bárbaros sobreviventes tiverem de recomeçar tudo desde o princípio – até que um dia também tenham os seus próprios arqueólogos – estes hão de sempre encontrar, nos mais diversos pontos do país, aquela mesma palavra. E pensarão eles que “Aluga-se” era o nome de nosso Deus!