Uma chance para mudar

 Discordo da fama que nós, brasileiros, ostentamos em boa parte do mundo, inclusive dentro do nosso próprio país. Não acho

 Discordo da fama que nós, brasileiros, ostentamos em boa parte do mundo, inclusive dentro do nosso próprio país. Não acho que somos assim tão bonzinhos, tolerantes, compreensivos. Isso pode chocar, mas basta olhar em volta para constatar exemplos do cotidiano para confirmar esta opinião.

Somos abençoados pela inexistência de fenômenos naturais catastróficos – como tsunamis, furacões e terremotos. Também não temos episódios de guerra com países vizinhos. Estas características, talvez, sejam responsáveis pela pouca solidariedade. E aqui não vale citar  participações episódicas, como no caso de enchentes ou campanha do agasalho.

Falo da solidariedade como ajuda permanente, desinteressada e distante das câmeras de tevê e celulares. É claro que o contingente de voluntários em entidades civis aumentou muito, mas falta compreensão – por exemplo – para cessar críticas mesquinhas, deletar antigas picuinhas e mudar as cores do noticiário onde proliferam mortes, pânico e negativismo e doses cavalares.

Longe de pregar um mundo cor-de-rosa defendo a tolerância – social, política e de comunicação – para minimizar os impactos deste momento único. Infelizmente os interesses pessoais – e corporativos – sobrepujam a necessidade de aplacar os efeitos da pandemia. Exibir imagens de covas e sepulturas revolta, mas a guerra político-ideológica fala mais alto.

Países mais pobres que o Brasil dão aula de humildade, promovem a solidariedade no cotidiano. Muitos sofreram tragédias de proporções mundiais como epidemias, conflitos bélicos e da fúria da natureza. Já perdemos milhares de vidas. Estamos longe do”achatamento da curva” do coronavírus. Então, o que mais falta para desarmar espíritos para agir como seres humanos?

O inverno bate à porta agravando os problemas de saúde de nós, que vivemos no extremo do Brasil, perto do gelo eterno. Mais que o frio das noites gélidas, saber que é impossível desarmar os espíritos dói muito mais. São tempos inéditos de doença, estiagem, intolerância.  Se tudo isso não é capaz de mudar corações e mentes, o que mais é preciso?

Confinados, com medo e diante de incertezas de todo tipo seguimos confinados. Em casa ou saindo apenas para o indispensável teremos muito tempo para refletir sobre tudo que o mundo enfrenta. E será, igualmente, uma oportunidade ímpar para mudar!