Entre dois horizontes
O violonista farroupilhense Jackie dos Passos se prepara para o lançamento de seu primeiro CD.
Nele, reúne toda a sua trajetória de vida por meio
da música erudita e do fingerstyle
Texto e EDIÇÃO: Roberto Ferrari
São poucas as pessoas que acreditam em seus sonhos a ponto de desmistificá-los, isto é, de deixar o sentimento utópico de lado e buscar por meio de ações aquilo que é preciso para concretizar o que se espera. Jackie dos Passos é um exemplo. Perseverante, o músico prepara-se para o lançamento do seu primeiro álbum, que consolida uma carreira de treze anos.
Dois Horizontes, título do trabalho que deve ser lançado ainda neste primeiro trimestre de 2017, sintetiza o conhecimento e as experiências do violonista farroupilhense, reunindo composições instrumentais das técnicas do violão erudito e do violão fingerstyle. É um CD no qual eu coloco no mesmo repertório dois estilos com uma linguagem totalmente diferente, tanto que poderia gravar CD para cada um deles, o que tradicionalmente seria o indicado. Porém, decidi ousar e fazer essa reunião de sons num trabalho só. Estou dando a minha cara a tapa, contribuindo para quebrar esse tabu. Penso que tenho que agradar mais ao público do que aos críticos, sintetiza o músico.
Produzido por Marcos Mangoni, da gravadora também farroupilhense Jardim Elétrico, Dois Horizontes teve suas primeiras faixas gravadas no segundo semestre de 2016. Segundo Jackie, ter a possibilidade de gravar perto de sua casa é um diferencial que o animou bastante. Neste segmento quase todos os discos são gravados fora, na região de Porto Alegre ou ainda em outros estados. Porém quis apostar aqui mesmo, acreditando no potencial da gravadora e em todo o seu arsenal tecnológico. É legal pensar que eu posso ir gravar saindo a pé da minha casa, com meu instrumento na mão e toda a calma do mundo, aproveitando a tranquilidade típica de Farroupilha, completa.
A consolidação de treze anos
dedicados à música
No auge de seus 28 anos, Jackie dos Passos soma quase metade de sua vida dedicada ao violão. Natural de Farroupilha, teve o primeiro contato com a música logo nos seus primeiros anos de idade, já que o pai era violonista não profissional conforme conta o rapaz. Porém, ele fazias suas próprias composições instrumentais. Cresci ouvindo o seu dedilhar no violão. Até que quando eu tinha 6 anos, ele quis que eu começasse a estudar o instrumento, mesmo contra a minha vontade. Hoje vejo que ele foi o verdadeiro e grande incentivador da minha carreira, acrescenta.
Mas se num primeiro momento Jackie não se sentia à vontade, com o passar do tempo o gosto pelo violão foi tomando forma. Quando chegou a pré-adolescência, começou a observar que colegas de sua escola se divertiam tocando músicas populares no instrumento. A atração pelas sonoridades foi aumentando até que Jackie começou a tocar algumas notas, reproduzindo aquilo que tinha gravado apenas no ouvido. Foram três anos fazendo bases instrumentais para ele ou alguém cantar por cima.
Somando aprendizados
e experiências
Cansado de sempre tocar as mesmas melodias e sabendo que existia muito a ser explorado, veio o desejo de estudar música. Aos 15 anos Jackie pediu ao pai para matriculá-lo numa escola, pois queria se tornar um profissional. De tanta felicidade que meu pai sentiu, ele prometeu que me daria um violão novo. Fomos juntos à loja e o vendedor nos presenteou com dois ingressos para um concerto, que segundo ele era de um rapaz muito bom que estava lançando o seu primeiro CD e que tinha acabado de voltar da Europa. Este rapaz era Thiago Colombo e em seu conserto tive o primeiro contato com o violão clássico. Ali eu descobri o que queria aprender, recorda.
O passo seguinte foi o início dos estudos com Ivan Montanha, em Caxias do Sul. Isso era o máximo para mim, pois ia ser aluno do mesmo professor do Thiago Colombo. Estudei com o Ivan durante dez anos, cinco anos diretos,e os outros cinco alternados entre outros professores e ele. Tive ainda a oportunidade de estudar com Thiago Colombo em Pelotas. Nesse mesmo período participei de vários master class com professores de países diferentes como França, Itália, Espanha e Bélgica, enfatiza.
Com uma boa bagagem já desenvolvida após anos de aprendizado, Jackie, aos 25, começou a estudar com o professor Paulo Inda, mestre em violão e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Foi um ano e meio de tutela, recebendo neste meio tempo a orientação para a realização de quatro recitais, inclusive um deles dentro da própria UFRGS e outro na Universidade de Caxias do Sul.
Aulas e projetos sociais
Conforme foi somando vivências e repertórios, Jackie dos Passos decidiu que era hora de compartilhar seus conhecimentos e experiências. A cerca de nove anos começou a ministrar aulas particulares, participando inclusive de projetos sociais. Preparei um aluno que passou em primeiro lugar na Universidade de Música em Santa Maria, no curso de Bacharel em Violão. Também orientei outros alunos que ganharam concursos de violão de música gaúcha, conta.
Fingerstyle e Dois Horizontes
Sem deixar o vilão clássico e a música erudita de lado, há três anos Jackie começou a se dedicar a um novo estilo: o violão fingerstyle, que consiste em interpretar peças de um modo semelhante ao clássico, mas usando o violão com cordas de aço e efeitos sonoros diferentes. Tenho me identificado muito com esse estilo. Foi por isso que também o inclui na gravação do CD. Quero me dedicar à essa experiência e apresentá-la nos recitais daqui em diante, relaciona.
Sobre o lançamento de Dois Horizontes, CD com faixas instrumentais dos estilos já mencionados, Jackie o define como a realização de um sonho. Gravar este disco é poder registrar momentos, sensações e eternizar lembranças lindas, de um longo período de estudos e dedicação a esse instrumento que me sensibiliza a cada vez que é tocado, conclui.