De “pai para filho” ou de “pai para filha”
Na CIC de Caxias do Sul a consultora Cláudia Tondo falou sobre os desafios para a perpetuação dos negócios familiares, que sustentam a economia nacional
Cerca de 90% das empresas brasileiras são familiares. O dado, apresentado pela consultora de empresas familiares e sócia da Tondo Consultoria, de Porto Alegre, Cláudia Tondo, é proporcional ao desafio de superar os conflitos emocionais ligados aos laços consanguíneos e também à máxima: pai rico, filho nobre, neto pobre. A doutora em Psicologia e autora de diversos livros sobre empresas familiares foi a palestrante convidada da reunião-almoço da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC), na oportunidade promovida pelo Conselho da Mulher Empresária Executiva da entidade, em evento alusivo ao Dia Internacional da Mulher.
Segundo Cláudia, os níveis de falência acompanham o alto índice das empresas de caráter familiar. A especialista revelou que da primeira para a segunda geração apenas 30% das empresas sobrevivem, enquanto que da segunda para a terceira geração somente 10% se mantêm ativas. A empresa tem que fazer um trabalho para a continuidade, porque a tendência é o fechamento, resumiu ela.
Os conflitos e ruídos nas organizações familiares são naturais e até desejáveis, pois fazem o negócio prosperar, na opinião de Cláudia. A desarmonia constrói. Mas é preciso administrar essa diversidade para construir a complementaridade, disse.
Para a consultora, o grande segredo do sucesso das empresas familiares é se tornar um time. Cada um joga em uma posição diferente, conforme suas potencialidades, mas todos possuem o mesmo ideal e são fundamentais para o negócio, destacou.
Além disto, Cláudia sugeriu que todo o grupo familiar precisa participar da construção do negócio, falou da importância de ter um plano de governança, e defendeu que é preciso entender que aquilo que funcionou para o pai empreendedor dificilmente funcionará para outras gerações.
A especialista ainda destacou a mudança na gestão dos negócios familiares a partir do divórcio. Ela explicou que com a nova composição das famílias, os patriarcas passaram a investir nas filhas e não mais nos genros. Os dados comprovam a inversão de papéis e a inserção maior das mulheres no mercado de trabalho. Em 2001, os donos de novos negócios era 71% homens. Atualmente, eles continuam sendo maioria, com 51%, mas perderam bastante espaço para as mulheres, conforme Cláudia.
Entre os pontos fracos das empresas familiares ela citou: insistência da pessoa errada no lugar errado; conflitos entre familiares (mais acentuados a partir da segunda geração); e relação inapropriada entre salários e desempenho.
Pela sua experiência profissional, para evitar problemas entre os familiares, como por exemplo, de status, dinheiro e poder, ela indicou o diálogo produtivo e sensível, onde se aprende a escutar uns aos outros. O vínculo familiar não se rompe, mas o de gestão, sim, alertou.