A última entrevista do poeta

Em 15 de junho de 1990, Oscar Bertholdo concedeu uma entrevista ao Jornal O Farroupilha. Na ocasião, ele estava finalizando

Em 15 de junho de 1990, Oscar Bertholdo concedeu uma entrevista ao Jornal O Farroupilha. Na ocasião, ele estava finalizando o lançamento do livro “Partilha de Afeições” e sua vida era dividida entre ler, escrever e ensinar. Acompanhe:

Nome: Oscar Bertholdo

Nascimento: 15 de julho de 1935.

Signo: Câncer

Cor: Vermelho, sou colorado.
Número: 19.

Mania: Querer bem a todos.

Aspiração: Ser poeta.

Perfume: Quando posso, Azzaro.

O máximo: Escrever.

O péssimo: Não poder publicar os meus livros. No momento são três os livros que ainda não publiquei: Últimos Passos, Outros Cânticos e Águas Curvas.

A seleção brasileira: É… Sonhamos com a taça.

O povo de Farroupilha: Trabalhador, muito amigo para os amigos.

Liberdade sexual: É fruto da mudança do mundo. Muito se confunde liberdade com abuso.

Mulher charmosa: É um poema tocável.

Homem Inteligente: Murilo Mendes, o meu poeta.

Quem levaria para uma ilha deserta: Se for pessoa, os meus amigos. Se for objeto, os livros.

O governo Collor: Tentativa de acerto.

Prato preferido: Uma boa massa.

Restaurante: Butelli, já o frequentei muito, mas ultimamente não aconselharia ninguém a me convidar para jantar. Sou muito guloso, como com os olhos e com a boca.

Fruta: Todas as da estação.

Quem merece nota 10: Quem se preocupa com os outros.

Paixão: Ler.

Esporte: Ler, lamentavelmente. Deveria caminhar, no entanto, não o faço.

O melhor dia da semana: O fim de semana.

Família: Um oásis no meio do deserto.

Fato: A queda do muro de Berlim e a abertura soviética. Acredito que os povos do leste não estão preparados para aceitar esta nova realidade. Tenho medo de contra-golpes. Mas é a evidência do amor à liberdade.

Religião: É um caminho para Deus. Embora muitos procurem curvas, mas acabam chegando ao seu destino. Fui padre e sei o quanto é difícil fazer com que a comunidade busque esse caminho.

O que é o sacerdócio: Antigamente era mais fácil ser padre. O padre era um líder imposto, hoje é preciso mostrar serviço.

Escritor: Jorge de Lima e Guimarães Rosa.

Quantos livros possui: Não consigo traduzir para número de edições, mas foi preciso de um caminhão Fenemê para trazer as 13 toneladas de literatura que tenho.

Leu todos eles: Praticamente todos, mas sou apaixonado por Pool Claudel, um poeta francês.

Quantos livros compra por mês: Não sei, pois eles estão muito caros. Uma vez por mês eu vou a Porto Alegre e percorro todas a livrarias em busca de novidades, bem como a todos os sebos.

Ser comunicador: É uma possibilidade de sair um pouco de minha casa e entrar na casa do ouvinte sem bater na porta.

Dos livros publicados, qual o preferido: “Matrícula”, porque foi um pequeno livro que me deu a oportunidade de receber os maiores elogios.

Por si mesmo: Prestigiem Farroupilha.