Angélica Malinverno, com a bola toda
A jogadora de vôlei farroupilhense que já foi convocada diversas vezes para a Seleção Brasileira, está na cidade para receber o título de Mérito Esportivo de 2015

| Claudia Iembo
| Especial
Um famoso pensador do império romano chamado Sêneca afirmou que nenhum vento sopra a favor daqueles que não sabem para onde ir. Como soube desde os 13 anos o que queria da vida, a farroupilhense Angélica Malinverno foi levada pelo talento nas quadras de vôlei para longe do município. Dez anos depois, os mesmos bons ventos a trazem de volta para receber a outorga do título Mérito Esportivo de 2015, em sessão que será realizada na Câmara dos Vereadores, na próxima segunda-feira.
Meu pai queria muito que isso acontecesse e é claro que vou dedicar o título a ele porque sei que ele era meu fã número um, antecipa, mencionando o pai Volney, falecido no final do ano passado.
Foi a família que deu o suporte e o apoio que Angélica precisou para traçar o destino que havia escolhido para si. A mãe Ivanes sempre acreditou que a escolha da filha daria certo e a caçula Jéssica, oito anos mais nova, conformou-se em crescer com a ausência da irmã.
Hoje, aos 26 anos, a atleta vive uma carreira de sucesso como jogadora de vôlei: tornou-se profissional aos 18 anos, nunca deixou de fechar contratos desde então e já foi convocada para a Seleção Brasileira por três vezes.
A medalha de prata nos jogos Pan-Americanos de Toronto, em 2015, foi a maior conquista profissional que já tive. Foi onde conheci a fama de ser reconhecida nas ruas, pelas crianças e por gente de todo o Brasil, revela.
Jogos Olímpicos no currículo só em 2020, em Tóquio. O Zé Roberto convocou jogadoras mais velhas desta vez, repetindo o que ele chama de ciclo olímpico, já que muitas atletas têm esta experiência. Minha meta é participar das Olimpíadas em 2020, quando estarei com 30 anos, idade que segundo os especialistas é o ápice mental e físico da mulher atleta, antecipa.
Transição e casamento
Angélica começou no DMD Farroupilha, aos 11 anos de idade. Passou no teste da UCS e logo entrou para a Seleção Gaúcha de Voleibol Infanto-Juvenil Feminino. O grande facilitador sempre foi sua altura: aos 11 anos já tinha 1,72 metros. Aos 14 foi eleita a melhor meio de rede, posição central que ocupa. Hoje, ela mede 1,90 metros! Um mulherão!
Mais alta que o marido Luis Claudio, técnico de Basquete em Uberlândia e outro grande incentivador de sua carreira.
O casal se conheceu na cidade mineira, já que na Angélica jogava em seu primeiro time adulto profissional, o Praia Clube Uberlândia.
Começou em Minas, mas o casamento aconteceu aqui, em maio de 2014. Eu fiz questão de me casar na mesma igreja que meus pais se casaram, na matriz! Foi tudo como eu havia idealizado, mas não tivemos lua-de-mel porque fui convocada pela Seleção uma semana antes do casamento e logo depois fui para o campeonato na Suíça, relembra.
Dores no caminho
A vida de Angélica mudou drasticamente quando passou pelo funil da transição do juvenil para o adulto. Ficou por cinco anos no Praia Clube Uberlândia, depois foi para o time da Amil, onde viveu uma excelente temporada de visibilidade até que aconteceu a primeira convocação para a Seleção Brasileira, em 2013.
Tudo estava indo as mil maravilhas até que num bloqueio que fiz cai em cima do pé da jogadora do outro time que havia invadido a quadra e tive uma séria lesão no joelho: ruptura do ligamento cruzado anterior. Meu choro naquele momento foi de desespero porque eu sabia o tamanho da lesão que havia sofrido, conta Angélica.
Seis semanas sem colocar o pé no chão, cirurgia, muletas, muita fisioterapia e cinco meses e meio depois da cirurgia, a volta às quadras. Foi então que aconteceu a convocação antes do casamento, organiza.
Ainda jogou em Brasília e no Sesi de São Paulo. Atualmente a farroupilhense está enfrentando a corriqueira transição de times, mas aguarda resposta para entrar na Seleção Militar, onde disputará campeonato como terceira sargento.
Mesmo sem ter o sotaque do sul e sem o hábito de tomar chimarrão, a gaúcha leva aonde vai outra grande herança da tradição: o apreço pela família. Não se esquece de mencionar o incentivo do avô paterno Edgar e de enfrentar a ausência do pai, sendo forte pela mãe e pela irmã.
Viaja o mundo, mas agora está em casa. E é para Farroupilha que sempre irá voltar. Sopre o vento que soprar.