O ano de ouro da Grendene
Em homenagem aos 50 anos da Grendene, o Jornal O Farroupilha convidou a jornalista Maria Cleufe Bianchi Poniwass que, assim como tantas outras pessoas, teve a vida marcada pela presença da empresa e do empreendedorismo dos irmãos Grendene em Farroupilha. Eternizadas em páginas, histórias se entrelaçam e dão origem a outras, como esta que você lê agora
Dia desses, eu e o Jorge Bruxel, diretor do Jornal O Farroupilha, encontramo-nos entre o muro que divide as nossas casas e ele lembrou do trabalho que eu havia entregado em outubro de 1982, para a matéria, Técnica de Mercado em Relações Públicas, no início do meu curso de Comunicação, na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS).
Perguntou se eu ainda tinha o referido trabalho e a revista Exame, de 24 de fevereiro de 1982, que ilustrava o progresso da Grendene, criada em fevereiro de 1971. Deixei o muro e busquei o trabalho que ainda figura como um troféu, na estante da minha biblioteca. Jorge então perguntou se eu poderia escrever algo sobre o conteúdo da revista, em comparativo do que a empresa é hoje, no momento em que comemora seus 50 anos de fundação.
Já em casa, passei a refletir sobre isso e resolvi contar um pouco a respeito de como o município de Farroupilha e a Grendene foram importantes no início da minha vida universitária. Quero enfatizar que nunca tive contato pessoal com os proprietários e durante esse tempo, estive na empresa apenas duas vezes. Mesmo assim, ela marcou um período da minha vida estudantil e o desenvolvimento da minha cidade. E isso é mais que suficiente para lhes desejar vida longa.
Revisitando o material, encontrei também o Jornal Farroupilha de 31 de maio de 1996 no qual consta o caderno especial sobre os 25 anos do Distrito Industrial de Farroupilha (inaugurado em 26 de setembro de 1997), com uma entrevista do prefeito idealizador, Avelino Maggioni (in memoriam), que afirmou: “era preciso fazer a nossa gente acreditar nela mesma, criar novas oportunidades, mais empregos.” Ele deixou registrado na reportagem que um dos avalistas foi Pedro Grendene (in memoriam), avô materno dos gêmeos, Alexandre e Pedro Grendene Bartelle.
Para Farroupilha, a Grendene foi um marco em seu desenvolvimento. Conforme a Grendene crescia, o município acompanhava. Empregos, renda, oportunidades para o desenvolvimento das pessoas e de outros setores como a educação, o comércio, moradias, entre outros. A Grendene injetou progresso a todos os envolvidos.
Conforme depoimentos dos gêmeos Alexandre e Pedro, na Exame, há apontamentos que comprovam o título da capa: “Como a Grendene cresceu vinte vezes em três anos”. Alguns apontamentos dos irmãos merecem destaque nesta #TBT .
Depois da fabricação de embalagens plásticas para garrafões de vinhos e peças plásticas para equipamentos industriais, Alexandre Grendene Bartelle, juntou-se ao avô materno, Pedro Grendene, para fundar a empresa. Quatro anos mais tarde, Pedro, irmão gêmeo de Alexandre, que tentara sem sucesso, ingressar na faculdade de medicina, veio juntar-se aos dois. O capital inicial foi de 120 mil cruzeiros, duas máquinas injetoras de plástico e 15 empregados.
A partir da Melissa,( em 2019 completou 40 anos,) inspirada no calçado usado por pescadores da Riviera Francesa, a Grendene mudou o comportamento do consumidor e a própria cultura, pois desde o seu início, a estratégia de comunicação foi valorizar o calçado de plástico, procurando evitar que, por ser um produto econômico, sua imagem fosse vulgarizada. Além disso, demonstrar o uso do produto no exterior.
Outro fato interessante que dá credibilidade ao título da reportagem é o fato de estar entre as Melhores e Maiores empresas do Brasil: “enquanto boa parte das empresas promove sua expansão sacrificando lucros, o caminho escolhido pela Grendene foi justamente o oposto: apoia-se em lucros crescentes para galgar posições. A tal ponto que, a despeito de seu porte, ela conseguiu figurar entre as 260 empresas privadas instaladas no país com lucro superior a 1 bilhão de cruzeiros, em 1981.”
Imaginem eu, uma estudante, “sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vinda do interior” apresentando isso e muito mais a respeito do meu município para uma classe com mais de trinta alunos, vindas de diversas regiões, do sul do Brasil. Foi como estar no palco. Aquela sala de aula nunca mais foi a mesma. Meu conhecimento como analista de mercado (sic) e a forma como mostrei minha cidade e a Grendene, mudou a minha imagem diante daquele público e acabou por incentivar, de forma mais significativa, a valorização das culturas e suas raízes. Além, disso, mostrei que eu não estava alí para brincadeira.
Afinal, naquela ocasião, Farroupilha e a Grendene foram agentes da minha nota 10 no trabalho de pesquisa e análise mercadológica realizados – e também da certeza que o propósito de me tornar excelente, como profissional de comunicação, estava só começando. E em se tratando de propósito, deixo aqui uma reflexão do livro, Inteligência Emocional na Empresa, de Cooper e Sawaf (1997): O futuro nunca acontece simplesmente, ele é construído.