O sertanejo Paulinho das Quebradas
Um dos mais famosos comunicadores do Rio Grande do Sul não esconde sua paixão pela música sertaneja, pela profissão e pela vida que tem
Entrevista: Claudia Iembo
Diariamente, ele entra nas casas dos gaúchos pelas ondas do rádio com seu programa Alegria de Minha Terra, que alcança picos de audiência de um milhão e quinhentos mil ouvintes! Por 10 anos consecutivos ganhou o Top of Mind da revista Amanhã, de Porto Alegre, por ocupar a lembrança das pessoas, um feito para poucos comunicadores, grupo do qual faz parte Paulo Anselmo Felicetti, o Paulinho das Quebradas, da Rádio Viva.
Dono de uma personalidade espontânea e exatamente por isso, polêmica, Paulinho é a típica pessoa passional, que verbalmente controla-se pouco no calor da emoção. Abaixada a poeira, usa toda a sensibilidade para retratar-se, sem orgulho, sem melindres. Com este jeito somou alguns desafetos pela trajetória profissional que trilha, mas a gama de amigos é bem maior, segundo ele. Já dizia Nelson Rodrigues que toda a unanimidade é burra, então precisa haver alguma contradição, o que é bom porque faz com que a gente se destaque, diz ele.
Nascido no interior de Farroupilha, Nova Sardenha, Paulinho trabalhou na roça até os 17 anos. Trabalhava e ouvia seu gênero de música preferido, o sertanejo, sem imaginar que anos mais tarde abraçaria uma profissão que o faria conhecer os ídolos que ouvia no rádio, como Sérgio Reis, Milionário e José Rico. Tornou-se o maior expert em música sertaneja no Rio Grande do Sul! Sempre gostei de música sertaneja e nunca deixei de escutar, mesmo quando eu estava na Força Aérea, no Rio de Janeiro, onde fiquei por sete anos e saí Sargento Reformado; por lá eu escutava escondido porque tinha vergonha, ainda mais porque era considerado brega, relembra.
Da vida militar para as estradas do Brasil, por onde rodou como caminhoneiro por cinco anos. Comunicativo por natureza, logo encontrou trabalho em rádio. A primeira foi a Rádio Garibaldi, depois a Rádio Miriam e há 25 anos a Rádio Viva. A comunicação é um dom que Deus dá, a voz é secundária porque o que conta é a descontração, a comunicação, que não se aprende em faculdade alguma, acredita.
FAMA
De tanto tocar a música Quebradas da Noite, de Crystian e Ralf, na época da Rádio Miriam, ganhou o apelido que contribuiu para a sua fama. Mas esta não é sua música preferida. Gosto de muitas músicas, mas se tem uma que pode ser eleita é Saudades da Minha Terra, de Belmonte e Amaraí.
Paulinho anda nas ruas e diz sentir o carinho que o público tem para com a rádio e para com sua pessoa e sabe que isso é resultado de um trabalho realizado com seriedade e responsabilidade sobre a informação que transmite. Farroupilha alimenta a cultura de que a rádio resolve tudo e não é bem assim. Antes de falarmos algo, procuramos em diversos canais e nossos repórteres vão atrás do fato. Um comunicador fica sempre muito exposto, mas digo que Deus me protege porque já sofri ameaças, já passei apuros, já fui inúmeras vezes processado, conta, sem entrar muito em detalhes.
Filiado ao Democratas (DEM), já recebeu muitos convites para a vida política, mas uma senhora no meio do caminho o fez desistir da ideia. Há uns sete, oito anos eu queria ser deputado estadual. As pessoas sabiam disso e um dia chega uma senhora e faz a seguinte pergunta: quanto você me dá para eu votar em ti? Aquela foi a sensação mais decepcionante que tive, o divisor de águas que me fez desistir da política e sinceramente, faço mais pelo povo do que se fosse deputado. Eu sou a voz que o povo gostaria de ter, analisa o comunicador.
O marido da dona Luiza, pai da Patrícia e avô do João Lourenço, de seis anos, diz amar o que faz porque além do programa diário, aos domingos ele ainda apresenta uma criação sua chamada Sertanejo Bom Demais. Alcancei todos os meus objetivos e sou muito feliz com a família e com os amigos que tenho. Amo Farroupilha, embora eu veja que o centro da nossa cidade esteja abandonado há décadas, deixando muito a desejar para nós. Farroupilha ainda é o patinho feio da serra, diz, não contendo a visão crítica.
Sua sinceridade, sobre o que pensa e sobre si mesmo, possui a capacidade de despertar sentimentos. Sem rodeios, ele conta, por exemplo, que quase entrou em depressão quando precisou migrar para aparelhos telefônicos com mais tecnologia. Suei para aprender a mexer nestes telefones novos e tive um grande incentivador, o Edinho, que trabalhou comigo por 17 anos como operador de áudio. Se não fosse por ele, não teria aprendido. Hoje sou craque, afirma, ainda comentando que algumas das fontes para obter informações são justamente os aplicativos de notícias que acessa em seu celular.
Paulinho das Quebradas, que já comandou a apresentação de shows enormes, como o da dupla Chrystian e Ralf, na Festa da Uva em Caxias do Sul, diz que detesta palcos. Fica nervoso.
Prefere o microfone do seu estúdio, onde tem aprendido que a maturidade o tem moldado, deixando-o mais cuidadoso com as palavras. Não carrego arrependimentos pelo o que já disse, apenas me penitencio por ser muito explosivo. Mas o tempo molda a gente. Dizem que o diabo é esperto não por ser diabo, mas por ser velho, finaliza sorrindo o comunicador que pode se gabar da fama que tem.
Ah e se for para comemorar, que seja com churrasco e vinho, com amigos e sinuca.