Pedro Pedrozo, na peleja da vida pública
Quem não conhece o Pedro Pedrozo? Tradicionalista, introduziu o teatro nas coreografias de danças com as quais viajou o mundo. Comandava a fantasia e agora comanda a realidade
| Claudia Iembo
| Especial
Como gata borralheira, no sábado tudo volta ao normal: a carruagem vira abóbora, os cavalos viram ratinhos e por aí vai, brinca o prefeito em exercício até amanhã, Pedro Pedrozo.
Ele foi o vice que assumiu por mais tempo a administração do município, o que lhe garante experiências e sentimentos além de seu cotidiano. Fico muito honrado e gratificado por ocupar esta posição, mas aprendi a reconhecer que a principal angústia de estar aqui é ter a sensação de que todos os dias é preciso recomeçar porque o município é um organismo vivo, que se modifica diariamente, então tudo que nos fazemos é pouco diante disso, divide Pedrozo.
Natural de Santa Maria, chegou a Farroupilha há 32 anos trazido pelo seu grande sonho: a dança tradicionalista, da qual foi coreógrafo por três décadas! Trabalhava com grupos brasileiros e fazia intercâmbios culturais pelo Conselho Internacional de Organização de Festival Folclore, CIOFF. Viajei o mundo todo e conheci lugares fantásticos como Mongólia, Taipei, Rússia, Holanda… Mas sou um homem de vida simples! Sempre tive cachês e não salários. Fui ter 13º salário nos últimos dois anos, diz.
Morador do bairro 1º de Maio, Pedrozo conta que atitudes como criar uma família são poderosas ferramentas de transformação social e como sempre acreditou que não bastava estar bem do portão para dentro de sua casa, apostou em suas ações como vereador. Tive dois mandatos como vereador e logo na primeira vez me elegi com 1285 votos! Penso que as pessoas do meu bairro acabaram se identificando com o meu jeitão, recorda entre os sorrisos constantes que expressa.
Pedrozo também já foi candidato a prefeito no passado, mas foi ao lado de Claiton Gonçalves, a quem se refere como alguém doce de coração, que realiza um ideal profetizado há alguns anos. Minha família também é de Santa Maria e recordo-me que uma vez fui buscar minha irmã por lá. Voltando para Farroupilha, com um sobrinho, eu disse a ele que estávamos indo para a cidade que eu amava e havia escolhido e da qual eu seria prefeito um dia, conta.
O artista e o político equilibraram-se dentro dele. Sendo artista, sempre fui um líder e todo artista trabalha com o coração das pessoas, pois é o ser que está mais perto do povo do que qualquer outra categoria profissional. Como vice-prefeito tenho a sensação fantástica de também poder ser útil!, compara.
Ele diz que passou a viver a prefeitura e o papel como Secretário de Obras tem lhe proporcionado um aprendizado incomparável. Ando muito e procuro comandar com respeito. O resultado tem sido positivo, tenho notado certa habilidade, já que cuidar de obras nunca havia feito parte do meu cotidiano, afirma.
Nesta última semana como prefeito em exercício de Farroupilha não faltaram compromissos a cumprir e ainda há muito por fazer. Neste final de semana teria que optar por alguns, pois participar de todos seria impossível. A vida pública é algo que demanda muita energia e acaba judiando muito da família o tempo que ficamos ausentes. Ainda bem que minha filha Elisa está mais independente aos 20 anos e minha esposa Claudia me acompanha, confessa.
Apesar de conhecer o lado penoso da política, entrega suas intenções para 2016. Se o grupo achar que temos que buscar a reeleição, sou parceiro.
Em um tempo futuro ainda mais distante enxerga-se em outro cenário. Quero tomar mate ao pôr do sol na ponte do rio Tramandaí, lugar onde Garibaldi entrou com os navios na Revolução Farroupilha! Desejo que o tempo passe bem mais devagar, quero pescar e tocar minha gaita, planeja.
Pedrozo dedica-se à gaita há três anos, um instrumento que diz estar incrustado em sua alma. Lembro-me que o pai trocou boi por uma gaita e juntava os filhos numa roda para tocar. Éramos oito rapazes e duas mulheres. Só os mais velhos podiam mexer na gaita e eu morria de vontade! Bom, isso marcou tanto a família que seis de nós têm gaita hoje, confidencia.
Tradições fortes que passam de geração a geração. Foi assim com ele, é assim com sua filha Elisa, prenda do CTG Ronda Charrua e para quem não consegue deixar de emitir a opinião do coreógrafo que é. Tento não me meter, mas simplesmente não consigo.
O professor ainda está ali, disputando espaço com o vice-prefeito, ou seja, com o prefeito em exercício no momento.
Pedrozo realizou os planos que um dia fez para si. Coreografou seus passos no espetáculo de sua própria vida.