Morre aos 91 anos o engenheiro Romano Antônio Piccoli
Apontado pelos amigos e colegas como um visionário, ele foi o primeiro profissional licenciador de obras públicas lotado na prefeitura de Farroupilha e, responsável, nos anos 50, pelo primeiro código de edificação do município
Romano Piccoli faleceu no dia 1º de dezembro. Estava internado no Hospital São Francisco em Porto Alegre e, nos últimos anos dividia seu tempo entre Farroupilha e Feliz, onde nasceu e também possuía residência.
O engenheiro civil foi sepultado no município de Feliz. Ele deixa a esposa, três filhos, três netos e um bisneto.
Ainda jovem veio para a cidade e se hospedou em um quarto no antigo Grande Hotel, em sistema de pensão. Começou a trabalhar, conheceu a então esposa Maria da Gloria Lucchese Piccoli, constituiu família e deixou um importante legado, não apenas para os colegas de profissão, mas para o município.
Ele costumava dizer que por três momentos em especial foi abençoado pela sorte: quando decidiu se fixar em Farroupilha, vislumbrando uma carreira profissional positiva; na oportunidade em que conheceu sua esposa e, por fim, quando conheceu o amigo, sócio e braço direito no trabalho, Bento Geraldo Pigozzi, com quem montou escritório de engenharia, que funcionou por muitos anos na casa de Bento.
Romano sempre foi muito respeitado pelo profissionalismo, competência e pela pessoa que era. Em seu currículo, constam projetos desenvolvidos no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. E, em sua trajetória, destaque para a honraria recebida como Cidadão Honorário de Farroupilha, cidade que escolheu para viver, trabalhar e construir sua família.
O engenheiro foi um dos fundadores da Associação Farroupilhense de Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos, Afea, e o seu primeiro presidente. Com o pensamento voltado para a disseminação do conhecimento e qualificação dos colegas de profissão, participou da criação de inúmeros cursos dentro da entidade.
Conforme o atual presidente da Afea, Alex Gobbato, Romano Piccoli foi um nome muito importante na história da entidade e do município. “Ele foi um dos primeiros engenheiros a se instalar na cidade, percebeu todo o potencial que Farroupilha oferecia, sem falar no apoio e incentivo que sempre prestou a todos os colegas, principalmente aos novos profissionais. Sem dúvidas, deixa um legado importante para todos nós”, reforça Gobbato.
Para o engenheiro civil Gilmar Singnori, a trajetória de Romano na engenharia foi um divisor de águas na urbanização do município. “Tive o prazer de conhecer e conviver com esse ser humano que possuía uma imensa alegria em dividir o seu conhecimento. Ele foi um profissional que se destacou pela habilidade, inovação e pelo entendimento de que o saber deveria ser repassado para todos”, destaca Signori.
Conforme Gilmar, Romano dominava como poucos a Norma Brasileira de Cálculo Estrutural. “Ele tinha fluência em alemão, conhecia a norma alemã, DIN, e a francesa e se usava muito desse domínio na validação de projetos estruturais que necessitavam desses dados”, comenta. “Na vida pessoal sempre foi um apaixonado por música clássica. Por diversas vezes promoveu audições em sua casa onde explicava cada instrumento. Me sinto privilegiado em ter feito parte desses vários momentos”, acrescenta Signori.
Romano participou de projetos importantes no município, como a construção de obras no Distrito Industrial, além de outras edificações do município. Em seu currículo destaque para a implantação de reservatórios cilíndricos, onde a água é reservada em um sistema de câmaras. Essas obras em específico eram muito desafiadoras na época, pois poucos profissionais sabiam calcular com exatidão o espaço. “Tive a oportunidade de participar com ele de um desses projetos junto a empresa Trombini e foi um grande aprendizado como profissional, uma experiência muito positiva”, conta o engenheiro Gilmar.
De acordo com Signori, outro projeto considerado audacioso para 1978 foi a ampliação da empresa Grendene no Distrito Industrial. Na ocasião, o engenheiro projetou uma viga de 30 metros de vão livre, que representa a distância entre os apoios de uma laje ou cobertura, formado por um sistema estrutural seguro, obra pouco comum na época e que não utilizava as técnicas avançadas que se tem hoje.
Romano Piccoli deixa mais do que um legado importante, sua trajetória serve de incentivo para novas gerações de profissionais e a certeza de que desafios do cotidiano são os motivadores das grandes obras.