Nas rotas que a vida dá

Fransuelen Costa encontrou na profissão de motorista de aplicativo um caminho eficaz para cuidar dos filhos e acabou recalculando a rota da própria vida

Se o cabelo vermelho combina com a personalidade que possui, a frase que ela inicia a conversa também fala bastante sobre sua opção profissional, motorista de aplicativo: “Se tem uma coisa na vida que não tenho, é medo”. Aos 30 anos, Fransuelen Costa afirma que encontrou um trabalho apaixonante e está realizada com isso.
Vinda de Viamão há 17 anos, ela chegou à cidade com a mãe, irmãs e outras parentes para trabalhar. Logo encontrou trabalho em uma padaria e aos 17 anos teve seu primeiro filho, Luis Gabriel, 14 anos, deficiente auditivo.
O tempo foi passando, os empregos acontecendo – trabalhou na Bigfer, em empresa de monitoramento, foi caixa em vários lugares, trabalhou com a primeira-dama – e teve seu segundo filho, Andryus Gustavo, quatro anos, autista.
Fran, como gosta de ser chamada, é “mãe solo”. Ela e seus dois filhos formam seu núcleo familiar. “O Gabi é meu braço direito, me ajuda muito com o Andryus, mas ainda assim o caçula demanda muito tempo e foi por isso que decidi trabalhar por conta, para poder ter mais tempo com eles”, justifica, explicando a mudança que encarou há seis meses, quando estava trabalhando com Ariane Feltrin.
Não se arrepende de nada. Segundo ela, quando financiou seu carro, tomou coragem e definiu um novo rumo a si mesma. “Me apaixonei pela profissão! Ganho muito bem, mas também gasto muito bem também. Tenho consciência de que se não trabalho muito hoje, amanhã preciso recompensar”, afirma a motorista da RotaFar.
Jovem, destemida nos desafios – aqueles das rotas que percorre com seus passageiros e as que a vida lhe impõe, Fran tem o sonho de ser advogada, quer defender mulheres. “Ainda vou ser um Rafael Gonçalves de Farroupilha! ”, afirma, mencionando o especialista em direito da família e violência doméstica.
Sem entrar em detalhes, mas deixando o vislumbre de tudo o que viveu pela emoção que os olhos não esconderam, Fran citou a inspetora Liane Pioner Sartori, que atende na Sala das Margaridas, na delegacia de Farroupilha. “Foi ela quem me acolheu e me ajudou quando precisei, foi ali que minha vida começou a mudar”, entrega.
E mudou. E a fez corajosa e briguenta, se for o caso. “A sociedade cobra que as mulheres sejam guerreiras, mas não dou conta de tudo sozinha e luto para ter ajuda do pai do Andryus. Se é preciso brigar com o sistema, brigo”, enfatiza.
Consciente do papel que possui, esta é a Fran, que adora o que faz – nem tanto quando se trata de passageiro que abusa do álcool – que faz tudo pelos filhos e que tem sonhos, sem esquecer de inspirar as mulheres. “As mulheres precisam ser independentes, sem medo de dirigir, sem medo de nada. Quando a gente encara o desafio, tudo dá certo”, finaliza a motorista.

REPORTAGEM: Claudia Iembo