Nonna Lívia, una novantenne felice e in anticipo sui tempi

Moradora do bairro Nova Vicenza, em Farroupilha, completou 93 anos no começo de março

Silvestre Santos
silvestre@ofarroupilha.com.br

Quem chega na moradia da nonna Lívia Gemma Giusti Pozza encontra uma casa tão simples quanto é a sua mais antiga moradora, mas ao mesmo tempo recheada com fartas doses de alegria, sabedoria e ensinamento. Do alto dos seus 93 anos, completados em 6 de março passado, a veterana senhora de cabelos curtos, grisalhos, sorriso farto e bem-falante, com frases em italiano misturadas ao português da terra em que nasceu, acompanhou a transformação do mundo desde que viu a luz, lá em 1931. Nascida em Linha Jacinto, interior de Farroupilha, é a penúltima filha de um grupo de seis irmãs e dois irmãos.

Foi casada com Nilo Antônio Pozza, desde 18 de maio de 1953 até o dia em que ele faleceu, aos 77 anos, em 2008. Dessa união, nonna Lívia deu ao mundo seis filhos, pela ordem: Ademir, Wilson, Airton, Vânio, Maria de Lourdes e Fátima Regina. “O mais velho Deus levou. Ele tinha 25 anos e não era bem mais meu, já estava casado”, conta, explicando que os filhos, depois que se unem em matrimônio, pertencem mais aos seus maridos e esposas do que propriamente aos pais. No pátio da casa em que reside – há mais de 40 anos – com o filho do meio, Vânio, cuida da horta e das folhagens. A filha Maria de Lourdes revela que é dali que ela colhe a salada de todos os dias.

Dona Lívia tem hábitos simples, mas não dispensa café preto, fraco, quando levanta e antes de dormir, um cálice de vinho depois do almoço, e de variar o cardápio todos os dias. “Ela não repete o almoço, de hoje, ao meio-dia de amanhã”, entrega Maria de Lourdes. Ela frequenta a Igreja São Vicente, que fica a menos de 100 metros da soleira da porta de sua casa, e admite: “Agora vou bem menos à missa. Antes de cair, há um ano e meio, quando quebrei uma perna e um braço, não faltava um domingo”, assegura. Sobre sua crença religiosa, filosofa: “Se com Deus a vida já é difícil, imagina sem Ele”.

Lívia Pozza queria, quando jovem, ser professora. Foi desaconselhada – para não dizer proibida! – pelos pais. Mas a educação que não pode ter, já que estudou só até o quinto ano primário, ou até os 14 anos, fez questão de incentivar nos filhos. “Todos eles chegaram na faculdade. Quem não terminou foi porque não quis”, afirma, com riso farto. E ensina: “Quem quer chegar ao sucesso tem que ter interesse e se dedicar”. Sobre uma tristeza que lhe marcou, não titubeia. Foi a morte do filho. “Sofri muito. E desde então sonhei muito com ele, muitas vezes. Mas, fazer o que? A vida não é perfeita”, consola-se.

“Antigamente a vida era bem melhor, havia mais espiritualidade e amizade entre as pessoas, apesar das dificuldades para viver porque o emprego era mais difícil e a gente tinha que produzir o que comer. Hoje em dia é tudo mais difícil, porque falta amor, apesar de muita gente achar que as mudanças melhoraram a forma de viver”.

Já uma das maiores alegrias da genuína descendente de imigrantes italianos, foi quando mudou-se “da roça” para a cidade. Comunicativa como só ela, foi cuidar do comércio da família, juntamente com o marido. “Eu cuidava do armazém, tinha de tudo, e eu gostava muito de conversar com as pessoas, fazer amizades. Só não gostava das bebedeiras, por isso o meu marido ficava no bar, que era do lado, e onde vendia cachaça. A gente não misturava as freguesias”, recorda, com sagacidade e, para rimar, muita vitalidade, nas palavras de Maria de Lourdes.

Algumas das outras paixões da nonna Lívia, das quais ela não abre mão, são comer melancia, polenta brustolada e queijo duro, curado no porão da casa em que mora!

Apesar da idade, a intrépida Lívia acorda cedo, por volta das 5h30min, e dorme igualmente cedo, ali pelas 21h. No seu dia a dia estão, além de cuidar da horta, cozinhar a refeição que divide com o Vânio, mas principalmente, amassar e assar o pão que vai por à mesa. O pão, aliás, é um alimento sagrado para ela. “A mãe fala dele com muito valor e sempre que alguém desmerece, ou acha que está velho, entristece. Ela guarda, recondiciona, torra, mas jamais põe fora. Se não puder mesmo reutilizar, ela enterra. Já vi ela fazer isso. Emociona esse valor que dá ao pão. Certo dia perguntei por que, e ela disse que as pessoas não fazem ideia do tempo que precisa para o pão chegar à mesa. Tem que plantar o trigo, bater, guardar, levar ao moinho e, além disso, se faltar pão, falta Deus”, conta a filha Maria de Lourdes.

A sabedoria adquirida nas suas mais de nove décadas de vida, permite que nonna Lívia tenha a receita da longevidade. “Fazer o bem para as pessoas não custa nada, e isso faz bem para a gente, também. Ganhar o pão de cada dia com o suor do nosso rosto, sem fazer mal aos outros, sem enganar ninguém. E ter vontade de trabalhar, produzir sempre, até que Deus nos dê as forças que precisamos”, afirma. E vai além: “E eu não gosto de fofoca de vizinho, isso não leva a nenhum lugar bom. Odeio fofocas e mentiras!”.

Talvez por isso ela tenha decidido, há algum tempo, abominar a política e os políticos. “Sempre votei”, garante, lembrando dos tempos de Leonel Brizola como governador do Rio Grande do Sul e do seu Partido Trabalhista Brasileiro, o PTB. “A gente era da roça, e ele defendia quem era da roça , por isso a gente votava nele”, revela, divertida. Atualmente, evita assistir televisão por acreditar que “tem muita mentira”, e que dos políticos quer distância. “São tudo muito sem-vergonha, uns mentirosos. Antes eu até gostava, mas agora não mais”.

Ah, sobre o título desta matéria, traduzo: “Vó Livia, uma nonagenária feliz e à frente de seu tempo”. Bem assim!