“Passados 10 anos a dor e a saudade estão cada vez maiores”
A frase é de Rosaura Paraboni, uma das tantas mães que ainda choram a partida brusca de seus jovens filhos, todos vítimas do incêndio da boate Kiss. Na semana em que a tragédia completa 10 anos, a Netflix lança a minissérie “Todo dia a mesma noite”, título perfeito para o pesadelo que nunca mais terminará para estas famílias
Existem acontecimentos que carregam consigo o estigma de serem impossíveis de esquecer. A tragédia da Boate Kiss, de Santa Maria, onde o fogo encontrou caminho fácil para roubar o futuro de 242 jovens e deixar 636 feridos ainda arde no peito das famílias e na memória de todos nós. Neste 27 de janeiro completa 10 anos.
A Netflix acaba de lançar a minissérie “Todo dia a mesma noite”, inspirada no livro-reportagem da premiada jornalista Daniela Arbex. A divulgação da obra diz que “para sentir e entender a verdadeira dimensão de uma catástrofe sobre a qual já se pensava saber quase tudo, foram necessárias centenas de horas dos depoimentos de sobreviventes, familiares das vítimas, equipes de resgate e profissionais da área da saúde, ouvidos pela primeira vez neste livro” e encerra dizendo que “enxergar os jovens com tanta vivacidade é um exercício que afasta qualquer apaziguamento que possamos sentir em relação ao crime, ainda impune”.
Entre as vítimas, o farroupilhense Ricardo Custódio, falecido aos 27 anos. Há dois anos conversamos com a mãe do rapaz, Rosaura Paraboni. Falamos novamente com ela e constatamos que o tempo não leva a dor embora. “Passados 10 anos, a dor e a saudade estão cada vez maiores e a vida segue carregando-as. Tudo mudou, tudo é mais difícil. Não há nada que traga o Ricardo para perto de nós”, diz.
A mãe afirma que não pretende assistir à série que estreou no último dia 25. “É muita dor trazida por aqueles momentos tão terríveis! Talvez um dia eu crie coragem e assista. O título já diz que todas as noites relembram aquela noite que trouxe tanto sofrimento e que espero que não se repita nunca mais”, confessa.
Para ela, uma forma de amenizar o sofrimento de quem convive com a dor da perda seria a punição dos responsáveis, “embora não a faça passar jamais”. “Desejo que o passar do tempo atenue o sofrimento de todas as famílias que perderam os seus amores e sofrem sentindo a falta deles”.
Ela mesma ainda não experimentou este bálsamo.
REPORTAGEM: Claudia Iembo