Programa Inspirando Mulheres Empreendedoras trouxe gente
que conhecemos bem

Terminando neste dia 20/04, o Programa Inspirando Mulheres Empreendedoras reuniu líderes
empresariais em Bento Gonçalves e contou com farroupilhenses, como Maria de Lourdes Anselmi

O público compartilhou de histórias que transformam vidas a partir do intercâmbio de experiências, da troca de conhecimento e da coragem em motivar (re)começos.
O Inspirando Mulheres Empreendedoras, criado para fortalecer o empreendedorismo feminino, reuniu grandes líderes empresariais para compartilharem suas trajetórias. No palco do hotel SPA do Vinho, em Bento Gonçalves, a abertura ficou por conta de Maria de Lourdes Anselmi, Clovis Tramontina e Fabio Wahl, que contaram que para empreender é preciso crença no que se faz e, fundamentalmente, muito trabalho.
Ensinamentos familiares também entram nesta conta. “Sou o que sou hoje por causa dos princípios e valores que meus pais me ensinaram: trabalhar, fazer as coisas corretas e ajudar as pessoas”, disse Maria à jornalista Izabella Camargo, que intermediou o bate-papo na abertura, no dia 16 de abril. Clovis lembrou que a Tramontina carrega valores de duas famílias, os Tramontina e os Scomazzon. “Eles eram muito maiores do que nós e resolveram nos ajudar na contabilidade por intermédio da minha avó (Elisa) porque havia uma vontade de a gente crescer. Acabaram se complementando, porque meu pai (Ivo) tinha conhecimento do chão de fábrica e o Rui (Scomazzon) era um intelectual”, comentou. Wahl também deu seu testemunho explicitando a força dos laços sanguíneos. “Família também inspira”, disse o empresário que, ao vender bolo de chocolate com a receita de sua mãe, criou uma franquia de restaurantes na Alemanha.

Trabalho e confiança
Hoje todos empresários de sucesso, eles tiveram que trabalhar muito para alcançar reconhecimento. Maria contou que trabalhou durante três anos com serviços de corte e costura para malharias de Farroupilha até conseguir juntar dinheiro para começar a investir em seu sonho. Adquiriu tecido e fez 20 camisas. Tentou vender nas lojas do centro de Farroupilha e nada. Certo dia topou nas ruas da cidade com uma revendedora de Porto Alegre. Maria a levou até sua casa e mostrou as peças. Foi o começo do que viria a ser a Malharia Anselmi, hoje com 10 lojas, três centros produtivos e 600 funcionários.
À época sem telefone, o retorno do sucesso das vendas chegava via Correios. E as encomendas também. “Um dia ela trouxe uma amiga que também revendia e assim a roda começou a girar”, disse, lembrando das horas e horas costurando num pequeno quarto, criando dois filhos — o terceiro viria anos depois — e economizando dinheiro para comprar matéria-prima. Um pouco depois, já em uma casa maior e com máquina de tecer, as primeiras malhas começaram a ser produzidas. E a fama da Anselmi a se espalhar.
Clovis contou um episódio ocorrido em 1981 que ajudou a Tramontina a adentrar mais fortemente no mercado nacional. Então gerente de vendas, foi a São Paulo determinado a vender seus produtos na Mappin, gigante loja de departamentos da época. “Apresentei uma travessa de aço inoxidável rasa sem virola (espécie de aro). Não tinha virola porque nós não tínhamos a máquina para fazer isso e eu disse que não tinha por uma questão higiênica, de não ficar resíduo de comida. Nós precisamos acreditar no nosso produto. Conseguimos entrar lá, e naquela época havia 17 marcas melhores que a Tramontina”, disse.


Na caminhada de cada um, muitos ensinamentos e visões de mundo foram acrescentados à vida dos empreendedores. Maria também reforçou a preocupação com as pessoas. “Eu não posso ser feliz sozinha, estou olhando quem posso ajudar. Temos que cuidar do produto, das pessoas, do meio ambiente, se preocupar com a sociedade. Sou realizada porque meus filhos têm meus valores. A cabeça tem que estar aberta sempre para aprender, mas os princípios e os valores eu não abro mão. Se colocar dinheiro em primeiro lugar e passar por cima das pessoas, já está fazendo a coisa errada”, reforçou. Clovis concordou. “Para ser líder, é preciso seguir os valores da empresa. A principal característica é ser um construtor de relacionamentos”, aconselhou.
As histórias de vida destes dois grandes empresários atuantes em Farroupilha têm relação com o programa criado por Luciana Mitri, que o fez surgir o Inspirando Mulheres Empreendedoras após a perda repentina de seu marido, a quem começou a namorar aos 14 anos e ficou junto até sua partida, quando ela tinha 48 anos. Com os dois filhos morando fora do país, percebeu que ela precisava mudar sua vida. “Eu precisava ser protagonista da minha história, que até então era uma história escrita a dois”, contou.

Luciana Mitri, idealizadora do IME. Foto: Gabriel Santos

Decidiu, então, sonhar novamente, a partir de histórias empreendedoras, já que ela também era uma. Começou por Portugal, e a experiência foi transformadora, através de cursos e contato com cases de empreendedoras. “O mais emocionante foi a conexão entre as mulheres. O Inspirando contava a minha história, e hoje conta a de muitas mulheres. A vida depende do ponto de vista de quem olha para ela, e ela traz mil possibilidades de a gente ter coragem, assumir e fazer diferente. O Inspirando, para mim é isso: ouvir histórias inspiradoras, fazer diferente e criar novas histórias”, disse a criadora do IME.