Sandra Anselmi, de Farroupilha, expõe pela primeira vez como artista no Espaço Etel Design

A diretora de criação da Malharia Anselmi elaborou tapeçaria em tricô gigante, 100% natural

TEXTO: Franciele Zanon – Latu Sensu

EDIÇÃO: Silvestre Santos

silvestre@ofarroupilha.com.br

A designer farroupilhense Sandra Anselmi, diretora de criação da Malharia Anselmi, de Farroupilha, exibe pela primeira vez seu talento artístico em mostra de experimentação têxtil, no Espaço Etel Design do Circuito SP-Arte, que completa 20 anos. A exposição, em São Paulo, capital, inicia nesta quarta-feira, dia 3 e vai até domingo, 7 de abril, no Pavilhão da Bienal, que, atualmente, estende suas atividades além do Ibirapuera. A convite de Lissa Carmona, CEO e curadora responsável pela Etel, Sandra preparou uma tapeçaria em tricô com cerca de 380 metros lineares, com matéria-prima 100% natural, que ocupará uma parede inteira, já na entrada da Mostra. Participam 60 galerias de arte e design com ateliês abertos, visitas guiadas e encontros com artistas.

Nesta edição o destaque é para o design, que traz novos artistas e técnicas. A curadora firmou parceria também com a espanhola radicada em Milão, na Itália, Patricia Urquiola.  Ao se referir a Sandra, Lissa diz que quando conheceu o trabalho da artista, “fiquei maravilhada. É uma peça impactante, feita a partir do zero, e ela antes nunca apresentou alguma obra”. Para a paleta de cores, a artista farroupilhense pesquisa a policromia na própria natureza. Utiliza-se dos tons naturais da lã de ovelha e do algodoeiro, mas em casos excepcionais, a exemplo da obra que intitulou como “Não deixe lacunas vazias em sua vida”, 20% dos fios apresentam cor natural, o restante recebeu tingimento de corantes. Do começo ao fim, o processo elaborado por ela está em simbiose com a vida e valores da mulher e da artista.

Sua obra é desenvolvida a partir da técnica artesanal conhecida como “tricô de braços”, que desenvolve com uma comunidade de tecelãs em seu ateliê, onde tecem pontos de malha, desgalhados e trançados, combinados à tecnologia 3D. Reunindo a técnicas do tecimento para criar texturas com efeitos tridimensionais a fazeres e saberes milenares, Sandra esculpe paisagens que se assemelham ao acolhimento orgânico, terapêutico do útero materno. Sua intimidade com o universo do tricô vem de berço. O fato de a lã e o algodão serem recursos naturais, renováveis e biodegradáveis, estimula seu respeito a essas matérias-primas que tecem histórias desde os tempos da Mesopotâmia (lã) e Egito Antigo (algodão). Em seus trabalhos, a matéria-prima é enaltecida por estar tramada ao conceito de sustentabilidade. Ela utiliza apenas resíduos de fios que, de outra forma, seriam descartados pela malharia, que ganham ressignificado por meio da arte.

Sandra faz parte da constelação de artistas contemporâneos, a maior parte deles, mulheres, empenhados em revolucionar a nobreza ancestral das artes têxteis. Suas esculturas orgânicas se desenvolvem a partir de um jogo lúdico com dimensões e possibilidades infinitas tramado por fios de lã e algodão tricotados com as mãos – sem agulhas – devido à espessura dos fios, resultando em obras volumosas e de surpreendente efeito estético.

Apesar de se assumir apenas há três anos como artista, a autodidata traz o milenar fazer das mãos cravado em seu DNA. Há mais de três décadas, participa da principal atividade econômica da família, como sócia da malharia, fundada por seus pais, como ainda hoje é comum no interior do Rio Grande do Sul às famílias de imigrantes europeus que se instalaram na Serra Gaúcha no século passado. “Há algum tempo, entendi: há algo muito especial na ideia do que é ‘local’ – vêm das minhas origens e dos valores que pratico no meu cotidiano”, enfatiza. Também conta a sua consciência social, apoiando ovinocultores dos pampas gaúchos, em fazendas centenárias envolvidas, desde sempre, na produção desse fio milenar. Com isso contribui com a economia local, a preservação de tradições culturais e o sustento de suas famílias. O algodão brasileiro, o outro material que emprega, a artista o faz por motivos semelhantes.