Conheça a história da Vinícola Slomp e o vinhedo que tem mais de 140 anos de idade
As poucas estacas de isabel plantadas pelos Slomp resistem ao tempo e continuam exuberantes no vinhedos, produzindo frutas há mais de um século
Com a chegada de José e Antônio Slomp, por volta de 1878 na localidade de São Roque, no interior de Farroupilha, vem junto pequenas estacas de muda da variedade isabel. Na época, os irmãos se deparararm com a mata fechada e muitos desafios. Colocaram no solo as mudas com a esperança de colherem as primeiras uvas em território brasileiro. Com o passar dos anos a mata foi sendo removida e algumas videiras acabaram sendo eliminadas junto, porém, aquelas que não foram avariadas, sobreviveram para testemunhar a relação da família Slomp, com a videira. O tempo passou e já são mais de 140 anos da epopeia dos Slomp e aquelas poucas estacas de isabel, ultrapassaram o século e permanecem exuberantes no vinhedo, produzindo frutas e ajudando na sustentação da estrutura do parreiral devido ao seu tronco robusto e resistente.
Os irmãos, José e Antônio, não se distanciaram, José se localizou em Forqueta e Antônio, na Linha São Roque, onde comprou terra e constituiu família. Um dos filhos de Antônio seguiu morando em São Roque e constitui família, vindo a ter onze filhos. Entre eles Valter Slomp, pai de Roque e Ivan Slomp, sócios da Vinícola atualmente. As primeiras vendas de vinho surgiram em 1932 quando Valter que seguiu nos parrerais, passa entregar para a Cooperativa Vinícola Forqueta, que não absorvia toda a produção, com isso obrigou a família produzir e consumir parte do volume.
O Sextilho, filho de Antônio também teve 11 filhos, um deles, Valter, pai de Ivan e Roque. Essa tradição de produzir vinhos, tem, literalmente, raízes muito profundas, tanto que a propriedade da família exibe uma videira de pelo menos 140 anos de idade, plantada pelo patriarca da família, assim que chegou da Itália. Hoje a empresa tem uma ampla linha de derivados de uva, com vinhos de mesa, vinhos finos, espumantes e sucos integrais.
Todo o processo segue rigoroso controle da matéria-prima e da fabricação, garantindo produtos de alta qualidade. Ivan e Roque tem mais seis irmãos e perderam o pai em 1986, mas seguiram na propriedade dando sequência a vocação do pai. Em 2023, registraram a marca Vinhos Slomp e passaram a vender em garrafão, mas também entregando para a Cooperativa. Ivan Slomp, tem seus filhos Gabriel e Marcos, engajados na vinícola, que elabora também espumantes e suco de uva, cuja uva vem de uma área de 12 hectares, que produz entre de 170 a 200 mil litros por ano, em pipas de madeira.
Os rótulos são elaborados das variedades niágara, isabel (para suco e vinho), bordô, lorena, moscato, merlot, tannat, ( o suave é produção da bordô) e rosé. Também se projeta novos vinhedos das variedades moscato giallo, guet e chardonnay. Essa produção, vinhos, sucos e moscatéis, é comercializado em grande volume na região, mas vai também para o Paraná e Matogrosso, sendo que cerca de 90% da produção é oriunda do próprio vinhedo. No entanto, o suco e os moscatéis são produzidos por terceiros, mas com rótulos da Vinícola Slomp.
A Vinhos Slomp é administrada atualmente pelos irmãos Roque e Ivan, com seus dois filhos Gabriel e Marcos. Trabalham ainda mais dois funcionários ligados pelo regime de CLT. No período de colheita a empresa contrata mão de obra de terceiros. Todo o processo de elaboração acontece em pipas de madeira, embora no ano passado foram instalados alguns tanques de inox para a fermentação. Para o futuro, a empresa projeta a instalação de um alambique para a produção de graspa, mas essa é uma ideia ainda muito incipiente.
Chama atenção ainda no vinhedo da família Slomp, a existência de parreiras com cerca de 146 anos, que ainda produzem uva. Mais de uma dezena de unidades, que inclusive, ainda estão sustentadas por arames centenários. É uma das atrações da propriedade e que testemunha o tempo e nos coloca diante de algumas perguntas: o que faz com que uma parreira chegue a essa idade e ainda produza frutos com alta qualidade?, que mística existe na cultura dos vinhedos?, qual durabilidade de uma videira?.
Gabriel Slomp, 26 anos de idade é filho de Ivan e decidiu ajudar na Vinícola, tanto no cultivo da uva como na elaboração de vinhos. São todos os processos, poda, rotulagem, colheita, produção do vinho e limpeza, como ele mesmo diz: “Como é uma empresa familiar, nós trabalhamos em todos os setores”, explica. Ele se formou no Instituto Federal de Farroupilha e trabalhou cinco anos na Randon, mas decidiu sair da empresa para investir no empreendimento da família.Entende que o legado de preservar a história da família, não se encontra no mundo corporativo, por isso resolveu voltar para dar espaço para a sucessão. Por isso comemora o fato de trabalhar com o próprio negócio, onde existe liberdade e proporciona melhor qualidade de vida.
Roque Slomp disse que a vida da família na Cantina é muito tranquila, recheada de liberdade, onde se trabalha o dia que quiser, pode viajar quando desejar e programar férias sem preocupação e pressão. Por outro lado, exalta que o negócio tem suas virtudes na medida em que o faturamento proporciona melhor condição de vida e mantém uma história familiar, que foi se estruturando com o tempo e hoje preserva uma clientela de mais de 40 anos, que apreciam os produtos da Vinícola. “Se a gente deixar de produzir seria até uma covardia, deixar eles sem. Porque eles se habituaram e até por amizade. A gente tem uma venda boa, se vende quase tudo aqui na empresa, não precisa estar distribuindo ai fora e o preço também é bom”, finaliza.