Expressiva ascendência

Vinda de uma família com importantes nomes que figuram no desenvolvimento de Farroupilha, Marcia Fetter Nicolletti segue contribuindo com as realizações do município para reverenciar o passado

Celebrando os 200 anos da Imigração Alemã no Brasil, o Jornal O Farroupilha marca a data trazendo até você histórias de descendentes que com sua realizações honram os sobrenomes que carregam. Começamos com a Marcia Fetter Nicoletti. Sinta nossa cidade pelos feitos destas pessoas que estão brilhando em nossas páginas e redes.


Carlos Fetter, o grande doador de terras
para o desenvolvimento do município

Toda pessoa tem uma história, diferente de qualquer outra, e que começa antes mesmo do nascimento, com o protagonismo de seus antepassados que, pelos seus feitos, acabam eternizando seus nomes, transmitindo o legado conquistado de geração a geração. Marcia Fetter Nicoletti, a neta de Edmundo Fetter e João Farinon, tem a vida inserida neste contexto.


Pelos fatos históricos, os sobrenomes de seus avós contam sobre a contribuição imensurável deles ao desenvolvimento de Farroupilha. Edmundo Fetter era filho de Carlos Fetter, que herdou 420 hectares de terras e passou a doar parte delas, como o terreno em que foi construída a estação férrea da cidade, onde se formou ao redor todo o centro, a Igreja Matriz – mesmo sendo luterano – a igreja Luterana e tantos outros para diversas instituições. Foi ele quem fundou, em suas terras, a primeira sociedade recreativa da qual foi presidente por muitos anos, hoje Clube do Comércio. Do lado materno da família, os fundadores de um dos primeiros comércios de Farroupilha: a Casa Farinon.


Dos expressivos antepassados, emancipadores de Farroupilha em 1934, descenderam Itto Fetter e Octavinha Bartelle Farinon que se casaram e tiveram Juliano, Geolar e Marcia. “Cresci de forma diferente e como reverência ao passado procuro dar sequência às realizações, por isso sempre me mantive muito participativa na comunidade”, enfatiza Marcia.


Empreendedora e engajada em atrair desenvolvimento ao município, assim como seus antepassados, traz investimentos como o Hotel Ibis Budget, Nic Eventos Corporativos, postos de combustível e ainda se dedica ao voluntariado: neste momento está como atual diretora convidada da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), coordenadora da CDL Mulher de Farroupilha e membro do Conselho Municipal de Turismo (Comtur).

Projetos de humanização no hospital que também foram contribuições ao município

Formada em Psicologia, com pós-graduação em Gestão de Pessoas, Marcia trabalhou por 25 anos no hospital em que nasceu, o São Carlos, onde marcou importantes contribuições em projetos de humanização ao longo de sua carreira. Entre os anos de 2003 a 2013 esteve à frente de projetos que se destacaram dentro do hospital, como o Dr Sorinho (composto por várias atividades voltadas ao acolhimento das crianças e dos pais e acompanhantes na ala da pediatria), apresentado em dois Congressos Estaduais e no primeiro Seminário Nacional HumanizaSus, em Brasília, levando o hospital São Carlos a ser referência em humanização na época e também Turma do Sorriso, que oferecia música pelos corredores e leitos do hospital.


Manteve consultório por décadas e em 2015 passou a exercer suas atividades profissionais nos postos de combustível dela e do marido Rodrigo Nicoletti, com quem se casou em 1990, e teve dois filhos: Manuela, 31 anos, e Ricardo, 23.


Os filhos atualmente estão morando fora do Brasil: Manuela é diplomata cultural no Marrocos e Ricardo, administrador de empresas, está se especializando nos Estados Unidos. Ela e o marido Rodrigo têm como hobby viajar e às vezes, de moto. “Começamos o namoro em cima de uma moto e até hoje gostamos de nos aventurar. Trabalhamos para isso”, declara.


Em 2008, a filha Manuela foi Rainha do Clube do Comércio, o mesmo fundado pelo bisavô Carlos Fetter, em terras da própria família, e com o qual as gerações seguintes teriam também forte ligação: o avô de Marcia, Edmundo Fetter, foi presidente e seu pai Itto foi intitulado o único sócio-vitalício.

Rainha do Cinquentenário

Rainha dos 50 anos de emancipação política de Farroupilha

Por falar em beleza, antes das conquistas da vida adulta, a beleza de Marcia lhe rendeu títulos inesquecíveis na adolescência, como: Miss Brotinho, aos 13 anos, em Arroio do Sal, Embaixatriz do Turismo e naquele mesmo ano, 1984, Rainha do Cinquentenário (50 anos de emancipação de Farroupilha), na gestão de Wilson Cignachi. “Foi uma festa muito grandiosa! Fecharam os dois pavilhões do parque Cinquentenário e construíram uma passarela que atravessava o local todo, com um público de mais de seis mil pessoas. A cidade parou para aquele evento e ter ganhado me deu uma responsabilidade muito grande por representar nosso município em vários âmbitos, me fez amadurecer muito aos 16 anos”, diz, mostrando o álbum de fotos carinhosamente organizado por sua mãe.


Vale dizer que a antecessora de Marcia foi Silvia Jaconi, eleita rainha em 1934. O título é concedido a cada 50 anos e diante disso, ela diz: “Esse ano estamos com 90 anos de emancipação política e eu espero passar meu título nos 100 anos do nosso município”.


Marcia participou do concurso de beleza representando a CDL, já que naquele tempo seus pais eram comerciantes com a Casa Farinon, de seu avô materno João Farinon.


A entidade, da qual é diretora, ocupa hoje o lugar físico onde seus antepassados Fetter começaram a escrever suas histórias, ajudando a impulsionar o progresso da cidade que hoje conhecemos e temos como nossa.

Rogério Portolan, Lúcia Portolan, Jorge Gilberto, Arruda, Ricardo Ló e Rodrigo Portolan, na época integrantes da equipe da Rádio Miriam, na cobertura do evento de escolha da Rainha do Cinquentenário
Silvana de Césaro, Suzane de Souza, Marcia Fetter e Cláudia Pedó
Com os pais Itto e Octavinha quando foi embaixatriz do turismo de Farroupilha, em 1984

Lado alemão

Praça da Bandeira, onde é o Clube do Comércio hoje

As recordações daquele tempo levam às confissões: “Lembro-me que não queria participar, mas o brilho nos olhos do meu pai me convenceu porque ele queria que eu representasse a família e nós dois éramos muito ligados! Acho que sou a filha que mais se identifica com o lado alemão da família”, revela ainda mencionando que não se esquece que ouvia da sala as bandinhas alemãs que o pai escutava no rádio do quarto.


Quando fala do pai, Marcia demonstra toda sua admiração pelo homem que foi candidato a prefeito de Farroupilha no final da década de 60, eleição vencida por Avelino Maggioni. “O pai gostava de conversar, de fazer festa, trabalhava muito, mas levava a vida de forma mais leve… puxei a ele”, entrega.


Feliz com as conquistas alcançadas, Marcia dedica seus dias aos postos de combustível Nicolletti, onde trabalha também no desenvolvimento das equipes, que contam com 20 profissionais.


Cumpre sempre o planejamento das viagens com o marido, mas diz que não troca sua cidade, Farroupilha, afinal, além de ser seu berço, aqui tudo conta a história de sua família e a sua própria, numa ligação mágica entre lugares e nomes: Casa Farinon, Largo Carlos Fetter, Rua Edmundo Fetter, Rua Itto Fetter … tudo para celebrar suas raízes, crescidas em terras adoradas por ela e pelos seus antepassados.

Com a família: o marido Rodrigo e os filhos Manuela e Ricardo no Aconcágua, na Argentina
Los Caracoles entre Chile e Argentina
Artigo escrito sobre o projeto Dr. Sorinho para a escola pública do RS

Curiosidades históricas

Em nossa imaginação podemos criar as cenas de famílias inteiras deixando seus países rumo a uma nova terra, como fizeram imigrantes de tantas nacionalidades quando vieram ao Brasil.


Só podemos imaginar o que passaram na execução deste ato de coragem e esperança, mas dados históricos enriquecem nosso entendimento, dando-nos uma dimensão ainda mais significativa.


Márcia tem cópias de um documento, cujos originais, escritos em alemão, estão guardados no Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, intitulado: “Submissa e mui obediente queixa de parte dos colonos em viagem do Rio de Janeiro a Porto Alegre”, um grito de socorro de pessoas desamparadas em um manifesto, datado de 04/01/1826, com as assinaturas de 40 famílias alemãs, hoje com descendentes espalhados pelo estado (veja os sobrenomes conhecidos e renomados abaixo).
O autor deste manifesto direcionado ao governo imperial foi Johannes Fetter. Para entendermos: Carlos Fetter, bisavô de Márcia, nasceu no Brasil. O pai dele, Jacob Fetter, nascido em Grolscheim, na Alemanha, veio ainda pequeno para o Brasil com seu pai Johannes Fetter, quem escreveu o documento, um relato das péssimas condições e maus tratos do capitão da Bergantim (uma espécie de veleiro) Carolina, na qual estavam. Há narração de fome, de doenças, de crianças e idosos sendo jogados ao mar.


Tudo parte da história da imigração alemã em nosso país

Os sobrenomes das famílias no documento:

1 – Ermel,
2 – Weinz,
3 – Puper,
4 – Boluer,
5 – Herringer,
6 – Wehling,
7 – Heineck,
8 – Zimmermann,
9 – Krăiner,
10 – Martin,
11 – Lore,
12 – Feck,
13 – Veeck,
14 – Ritter,
15 – Cornelius,
16 – Engers,
17 – Helbig,
18 – Vetter,
19 – Koch (não sabia assinar),
20 – Schmitt,
21 – Stalhoefer,
22 – Weingärtner,
23 – Diehl,
24 – Daudt,
25 – Dick,
26 – Sieben,
27 – Borger,
28 – Niederauer,
29 – Schmidt,
30 – Belz,
31 – Hoffmann,
32 – Knobloch,
33 – Schneider,
34 – Dexheimer,
35 – Brandt,
36 – Schneider,
37 – Niederauer,
38 – Huster,
39 – Schuler,
40 – Krebs.