“Se almas gêmeas existem, nós somos a prova”

Eles visitaram muitos países, se conheceram no Marrocos, mas é em Farroupilha que vivem uma história repleta de companheirismo e amizade, as bases de um relacionamento maduro. Para quem enxerga o tempo como um obstáculo, Marlize e Olci comprovam que não existe idade para o amor.
Feliz Dia dos Namorados a quem ama e se dispõe às descobertas da vida a dois!

Certa vez me perguntaram se eu acreditava em almas gêmeas. Em uma rápida e prática análise respondi que não, creditando a ideia ao romantismo esperançoso das pessoas. Mas vamos às descobertas que a profissão possibilita…

Encontrei a Marlize Helena Tartarotti Grezzana, a irmã mais velha de uma família tradicional de Farroupilha, e o Olci Soria Machado, jornalista e escritor de Porto Alegre, casal que dividiu sua história de amor e me fez questionar a resposta dada em outra ocasião. 

Depois de um casamento de 42 anos, a viuvez chegou à vida de Marlize, em 2009. Acostumada a viajar pelo mundo, ela era a típica esposa dedicada e dependente das decisões do marido. Mãe de três filhos adultos – Wilson, Luciane e Thomás – viu-se perdida diante da necessidade de tomar as rédeas de tudo que a cercava. Tomada de coragem, depois de viver o luto por dois anos, aceitou a sugestão da filha em viajar e entrou em uma excursão para o Marrocos.

Vivendo na capital do estado, Olci alimentava o hábito de viajar constantemente. “Solteiro por vocação”, como se definia, havia contabilizado diversos países em seu passaporte, tendo os da América Latina percorridos com mochila nas costas. Tinha um grande objetivo: conhecer o Marrocos. Ocupou a última vaga da excursão na qual estava Marlize. 

Vivendo as diferenças das vidas escolhidas por eles, saíram do mesmo lugar físico para se notarem no país africano de influências árabes, levados por uma sucessão de fatores que muitos chamam de coincidências.

 

Destino

“Eu fazia tudo com minhas irmãs e naquele ano, em 2011, resolvi viajar sozinha. Estávamos atravessando o deserto de ônibus e em uma brincadeira proposta, me chamaram para falar do Olci, mesmo sem conhecê-lo. Havia 34 mulheres, três casais e um único homem solteiro”, conta Marlize.

“Antes disso, enquanto esperávamos para embarcar no ônibus, vi passar, no lugar onde estávamos, uma baixinha, chorando. Minha imaginação de escritor teceu histórias”, comenta Olci, recebendo a explicação de Marlize: “eu havia comprado água e estava feliz por ter feito aquilo sozinha”.

Todos a bordo com suas garrafinhas de água. Menos Olci, que estava sem trocados para a compra. Quem o socorreu com as moedas? Marlize. Daí estava aberta a “facilidade” para verbalizar as palavras na brincadeira do ônibus. “Ela foi muito graciosa no que falou de mim, rimos muito”, completa Olci, cuja única pessoa conhecida na excursão era a companheira de quarto de Marlize.

Notaram-se no Marrocos, mas foi na Ilha da Madeira, em Portugal, que começaram a descobrir as afinidades. “Foi lá que me deu um clique diante do tanto que tínhamos em comum pelas conversas”, lembra ela.

De volta ao Brasil, as coincidências continuaram e o casal passou a se encontrar “por acaso” em algumas ocasiões. Nascia uma forte amizade. “Em um destes encontros, porque uma vez por mês acontecia um jantar da agência de viagens, sentamos juntos e fomos fotografados e uma amiga me disse: ´você encontrou um amigo para a vida toda´. A sintonia era tão grande que começamos a nos falar por telefone todas as noites. Ficávamos duas horas conversando”, entrega Marlize.

Três anos depois da viagem ao Marrocos começaram a namorar. Olci vinha a Farroupilha e ficava hospedado em hotel. “Havia protocolos a serem cumpridos e nós queríamos noivar”, explica ele.

Procuraram as alianças nas viagens que fizeram, mas foram encontrar o par que queriam em Porto Alegre, para cumprirem as etiquetas que entediam corretas. Não apenas um anel, mas três entrelaçados, no clássico modelo da famosa Cartier, representando o amor, a amizade e a fidelidade.

Em 2015, depois de uma grande reforma na casa onde Marlize mora há décadas e do falecimento do pai de Olci, com quem ele morava na capital, o casal deu início à vida em comum. Em 15 de outubro, mesma data do primeiro casamento dela. Ele estava com 70 anos, ela com 68.

 

Essencial

A relação de Marlize e Olci tem um alicerce fundamental: a amizade. “É tudo em um relacionamento. Com ela preenchemos o vazio, descobrimos um carinho muito grande e aprendemos a aceitar os limites um do outro. Eu voltei a ser a pessoa que eu era antes de casar”, confessa Marlize, que depois de chorar por uma compra que realizou pela primeira vez sozinha, agora cuida também das aplicações financeiras do casal.

A escrita – Marlize chegou a escrever para jornais -, o gosto pela leitura, pelas viagens – “enquanto eu andava de mochila, ela estava em transatlânticos”, conforme palavras do Olci –  aproximaram o casal que hoje desfruta de uma sintonia rara. “Temos a sensação de que nos conhecemos a vida toda! Somos até telepáticos”, afirma com sorrisos Olci.

“Ele diz que tenho um mantra: ´Que bom que a gente se encontrou´”, completa Marlize, ainda dizendo que a família e a sociedade de Farroupilha o aceitou muito bem.

Lá se vão dez anos da viagem ao Marrocos. Os passaportes, segundo eles, estão aposentados por enquanto, mas o casal não precisa percorrer distâncias para descobrir os prazeres da vida. Eles estão fazendo isso diariamente, na cumplicidade que vivenciam em tudo o que fazem, algo que pode ser notado até na troca de olhares entre eles.

Ele para ela: “O Olci é um encanto, um grande companheiro. Harmonia é a palavra exata para nós”. 

Ela para ele: “Se almas gêmeas existem, nós somos a prova”.

Casais como Marlize e Olci possibilitam-me o repensar das respostas para algumas indagações. É com esta história de um amor maduro e verdadeiro que celebramos a mais romântica das datas do ano.