Conheça a Casa Ágora com modelo de produção de vinhos e espumantes orgânicos e de cooperação
Desde 2015 a Casa Ágora produz vinhos e espumantes a partir do vinhedo de Hélio Marchioro na localidade de Linha Palmeiro no interior de Pinto Banderia. O que antes produzia no modelo convencional a partir de então foi transformada em um parreira com produção orgânica

A Casa Ágora começa a produzir vinhos e espumantes em 2015, a partir do vinhedo de Hélio Marchioro, no interior de Pinto Bandeira, na localidade de Linha Palmeiro. A área de 10,7 hectares, que na época produzia no modelo convencional, foi transformada em um parreiral com produção orgânica. A proposta é totalmente diferente do modelo de vinícolas que conhecemos tradicionalmente. Hélio produz a uva em uma área de 2,5 hectares e manda vinificar e envasar na Vinícola De Cezaro, na Linha Rio Caçador (3º Distrito) de Farroupilha, com quem tem parceria na produção da bebida.
Conforme Hélio Marchioro, a proposta parte inicialmente da ideia de produzir uvas orgânicas, mas também produzir vinho de maneira artesanal, conforme seu pai fazia em Santo Augusto. Hélio acrescenta que esse é o motivo pelo qual lhe moveu para essa atividade, implantando novos ingredientes na área da vinificação, com o ideal de produzir sem o uso de agrotóxicos.
O nome Casa Ágora é uma homenagem ao que a ciência determina como a raiz (gênese), o início do que se entende como Democracia e sua prática, originalmente nascida na Grécia Antiga, onde as pessoas se reuniam na Praça grega, ao redor de uma pessoa que imaginava outro mundo possível. E esse mundo seria um mundo mais humano, solidário e democrático, apesar de que naquela época era restrita a participação. A proposta de trabalho é participativa e busca os diferentes debates sobre as produções orgânicas e biodinâmicas em parceria com outros produtores, elaboradores de vinhos, entidades técnicas e colaboradores de diferentes regiões do Brasil.
O projeto é conduzido em parceria com Sidnei (sobrinho), os filhos Pedro, Tomás e Beatriz. Quem resgata as histórias de cooperação e das relações com índios e os agricultores familiares, é o patriarca e viticultor Helio Marchioro, que demonstra isso na identidade visual dos vinhos, especialmente as cápsulas, que são feitas por uma família de índios Kaingang do noroeste do RS.
Hélio Marchioro
Natural de Santo Augusto, da região Oeste colonial do Rio Grande do Sul, município que seu pai ajudou fundar ao deixar sua terra natal, Ajuricaba. Quando Hélio tinha dois anos de idade seu pai migrou para o interior. Mas antes, possuía um hotel na vila e hospedava os caminhoneiros que transportavam suínos. O serviço também era estendido para os animais, pois a terra naquela região é vermelha e quando chovia os caminhões atolavam e não conseguiam seguir viagem. Os porcos tinham que ser descarregados e colocados em uma área cercada (encerra), até os veículos terem condições de prosseguirem a viagem.
Ele conta que mais tarde a família foi para o interior trabalhar na agricultura, onde plantava milho, feijão, soja, arroz e outros. Também se trabalhava com erva-mate e cana-de-açúcar onde se produzia o açúcar mascavo, melado, outros derivados e muita fruta. “A vida era compartilhada com os vizinhos, que quando uma família carneava um animal (suíno ou bovino), ela dividia com as demais, porque não havia geladeira para guardar a carne”, lembra.
Para Hélio a experiência de cooperação e partilha das famílias era levada para a igreja e escola, onde a vida comunitária fluía. Ele conta que entre as frutas que eram cultivadas, havia a uva e como seu pai era de origem italiana, região do Vêneto, ele herdou dos seus antepassados a cultura de produzir uva e vinho, para consumo próprio.
Hélio é formado em cooperativismo pela Universidade Federal de Santa Maria e especialista em cooperativismo pela Unisinos. Conta que depois de interromper o curso de Filosofia, percebeu que o cooperativismo era seu caminho, porque conecta tudo o que aprendeu na agricultura. Isso foi importante para adotar o cooperativismo não como um curso, mas um estilo de vida. “Como um propósito na minha vida, minha causa é fazer com que as pessoas se sintam melhor através da cooperação e não da competição”, propõe.
Formado em Cooperativismo, Hélio foi trabalhar nas cooperativas de Santa Maria, Júlio de Castilhos e depois na Fecotrigo. Observando os movimentos com as lutas, representação, participação dos agricultores e do sistema cooperado, decide fazer o Mestrado em Sociologia e Política pela Federal de Santa Catarina, para entender todo o processo. Com outros sócios, cria um Instituto para prestar serviços às Cooperativas, dentro da sua formação. Isso o levou a trabalhar na regional dos sindicatos na Serra, em 1993, na prestação de serviços por vários projetos. Em 2003, por conta de uma demanda do setor público estadual, foi contratado pela Federação das Cooperativas do Rio Grande do Sul (Fecovinho).
Ele não se considera proprietário da Casa Ágora, mas intitula como um empreendimento econômico coletivo, pois quem trabalha no seu vinhedo pode plantar e usufruir da produção. “Não considero muito como uma empresa formal, dentro das linhas normais, vivemos aqui modelos de cooperação na área de tecnologia, inovação, reuniões de grupos de agricultores, produtores orgânicos e aqui também já trabalhamos com a biodinâmica”, conta. Inicialmente seu desejo era produzir uva orgânica e elaborar vinho artesanal como seu pai fazia. “É o que se faz hoje aqui, com alguns ingredientes novos na vinificação. Mas a luta que mais me move é a produção com menos veneno”, confessa.
Todo o vinho produzido na Casa Ágora é da própria uva, como Cabernet Franc, Merlot, Alvarinho, Chardonnay, Pino Noir, Sauvingnon Blanc e vinhos Noir e Isabel. Com exceção da Isabel, todas as demais variedades são cultivadas no sistema de cobertura. A produção de vinhos da Ágora presta homenagem a raiz da terra e ao agricultor. Os rótulos exaltam a parceria e cooperação conectada aos índios Kaingang, com quem havia uma conexão muito forte durante sua infância, que segundo ele, aprendeu muito.
Os rótulos são Kamé, que é um Cabernet Franc puro (Kamé é uma homenagem aos índios e quer dizer, espírito guerreiro). “Quem entende um pouco de vinho sabe que o Cabernet Franc, não é assim, atirar na pipa e deixar que vai dar vinho, que nem o Merlot, o Merlot é o Igára. O Igára é uma canoa de uma madeira só, que é o símbolo do equilíbrio, é uma uva equilibrada”, explica. O Albert é uma homenagem ao seu pai, um corte das duas uvas, Cabernet Franc e Merlot. O Angra é a Deusa do fogo, uma simbologia também, um Rosé das duas uvas. Para Hélio ela é enganadora, tem um grau de álcool que ao aromatizar nem se imagina que esse vinho seja de Cabernet Franc ou Merlot. Está na carta de vinhos também o Alvarinho Laranja e Chardonnay. Com o Pino Noir e Sauvignon Blanc, a vinícola produz o espumante. Da uva Isabel sai o Rosé, o Pet-nat e o Isabelão que é o mais comum de todos
Hélio explica que por ser produção orgânica, as uvas viníferas precisam ser cobertas, embora não tenha pretensão de competir com o mercado, ele se posicionou na produção de vinho e espumante nesse modelo. A proposta de Hélio se estende aos seus filhos, que possuem um empreendimento em Florianópolis (Casa Madega), que só vende vinho brasileiro. “Nós somos todos cheios de causa, se é um empreendimento que nasce meio borrado é você pretender vender só vinho brasileiro, no Brasil”, admite.
No empreendimento da capital catarinense, é vendido também o vinho produzido pela Ágora na Casa Madega. Tem ainda a Casa Porongo (um espaço coletivo), criado para diminuir os custos, onde uma cheff de cozinha tem um restaurante, que se abastece do bar do vinho da Casa Ágora e mais uma indústria de queijinhos de outro empreendedor, todos anexos a um único espaço na Casa Porongo. Os produtos da Ágora também chegam em outros mercados, como Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Toda a produção de uva, cerca de seis mil quilos é transformada em vinhos e espumantes, que rende uma média de seis mil garrafas por ano, elaborados e envasados na Vinícola De Cezaro.
Vinícola De Cezaro
A De Cezaro envolve agricultores vinhateiros que produzem só orgânicos, cujo método pratica o mínimo de intervenção possível. Como a uva é orgânica, o vinho não sofre intervenção de produtos conservantes. Daniel De Cezaro, um dos sócios da empresa, lembra que em função da amizade e por atuar na área dos orgânicos natural, há quatro anos a vinícola foi procurada por Hélio, que é um produtor orgânico e precisava elaborar seus vinhos em uma vinícola orgânica e certificada.
A empresa foi fundada em 2002 e desde sua instalação começou orgânica, com a elaboração de um rótulo de vinho de mesa da uva Bordô, mas posteriormente passou elaborar vinho branco e suave dentro da linha de vinhos de mesa, depois sucos, espumantes e recentemente as variedades de vinhos finos. A Vinícola De Cezaro tem autonomia com seu vinhedo para os vinhos finos e espumantes, enquanto que nos vinhos de mesa e sucos de uva, a matéria-prima é fornecida por terceiros.
A produção chega em torno de 50 mil garrafas por ano, nos vinhos, espumantes e sucos orgânicos. As uvas processadas para os vinhos de mesa são da variedade Bordô, Niágara e Isabel. Para os vinhos finos, tem Tanat, Moscato, Moscato Branco e Sauvignon Blanc, que dão origem a outros cortes. O suco de uva é feito com a uva Bordô e também tem a produção de um vinho tinto feito com a uva Isabel e o espumante é elaborado da uva Riesling e Sauvignon Blanc.