Ele mesmo já é umatradição por aqui
Começou a vida de jornalista em rádio, mas foi “picado” pela TV. Defensor da tradição italiana em nosso município, Adamatti, inseri a TV na comunidade, que o abraça sempre. Quem não o conhece, afinal?

Já escreveram que Barack Obama, ex-presidente dos Estados Unidos, “é um introvertido com extraordinárias habilidades de comunicação”. A consagrada atriz Maryl Streep declarou que a autoconfiança é resultado de muito esforço – “Quando estou sob os holofotes, tenho que pensar ‘Mary, você consegue’”. Exemplos de pessoas conhecidas que combatem a timidez que carregam consigo. Perto de nós, temos um comunicador que marca presença nos principais acontecimentos da cidade e admiravelmente, perto de sua desenvoltura frente às câmeras, também se declara tímido: Leandro Adamatti, da TV Serra. No entanto, segundo palavras dele, a situação muda diante de um detalhe. “Se estiver com um microfone nas mãos, não me sinto mais tímido”. Percebemos.
Os caminhos de Adamatti começaram a ser escritos ainda pequeno quando aos 10, 11 anos cortaram um cinamomo e ele subia no tronco fazendo-o de palco, com uma taquara simulando um microfone e uma folha de jornal na outra mão. A brincadeira já profetizava o futuro, mesmo diante das opções almejadas como ser radialista, eletricista ou meteorologista, segundo ele.
Nascido em Santo Antão, interior de Caxias do Sul, filho de Valdomiro, pedreiro e carpinteiro, e Sueli, agricultora, o irmão de Leomar descobriu o gosto pelos estudos depois da primeira infância, pois aos sete anos ia para a escola, mas fugia do lugar, o que lhe rendeu muitas memórias. Era tímido ao extremo. “Até em responder ´presente´ na chamada escolar, mas o tempo foi passando e a timidez foi diminuindo” – assim como a dificuldade em permanecer na escola.
Naquele tempo, o menino descobria o gosto de cozinhar, junto à mãe que voltava da roça para preparar o almoço da família.

O tempo passou e ele ingressou na faculdade de Comunicação Social, onde cursou Jornalismo. Cresceu acompanhando a mãe ouvindo rádio e aos 20 anos, a Rádio São Francisco entrou para sua história como o primeiro emprego. “Frei Jayme Bettega foi quem me deu a oportunidade. Entrei para ser operador de áudio e diante do aparente descontentamento pela vaga, o frei me disse: ´Este é só o primeiro degrau, há uma escada inteira pela frente´. Fiquei cinco anos lá e passei por todas as funções técnicas até a apresentação de programa”, relembra o jornalista.

Em 2003 foi para a Rádio Miriam como coordenador de programação. De 2005 a 2011 foi gerente da rádio. Depois passou pela Rádio Sonora, onde produzia e apresentava um programa de jornalismo. “A comunicação move minha vida, é um oxigênio, não vivo sem”, grifa.
De 2015 a 2017, uma pausa para gerenciar a empresa da família Milon, mas a brevidade tinha motivo: “Me sentia peixe fora d´água”.
O radialista que pensava que TV não era para ele viu a vida mudar com o convite, em 2017, para trabalhar na TV Cidade, com o programa Cidade Aberta. “Fui picado pela TV e comecei a idealizar a TV Serra”, afirma.
TV Serra
Em 25 de maio de 2019 a TV Serra estava no ar. “Como bom devoto de Nossa Senhora do Caravaggio, comecei com a cobertura da romaria e não parei mais. Desde o início eu quis colocar a TV a serviço da fé, da evangelização e tem dado certo”, diz o homem que faz tudo em sua própria empresa: busca anúncio, gera conteúdo, edita (ao lado da funcionária Angélica), cuida da parte financeira. Trabalha 12 horas por dia.
“Estou no meio do povo, cumprindo o objetivo de inserir a TV na comunidade e estou contente com a receptividade que todos têm com a TV Serra. Houve uma época em que só nós jornalistas gerávamos conteúdo, hoje todo mundo faz isso, daí cabe a nós produzirmos algo diferente”, diz.
Sem se considerar um entrevistador polêmico, Adamatti segue o princípio de prestar serviço à comunidade, reportando os assuntos com o “mínimo possível de toques pessoais”. “Como jornalista temos que saber um pouco de tudo, mas ter em mente que a pauta nunca é uma camisa de força”, ensina.
Em sua trajetória, muitos momentos foram marcantes, mas ele aponta três: “A entrevista com Ivo Sartori, na época governador do Estado, no Palácio Piratini, em porto Alegre; uma pergunta feita em coletiva de imprensa da Festa da Uva para a presidente Dilma Roussef e a entrevista nos estúdios da TV com Hamilton Mourão”.
Adamatti sabe que quer a comunicação na vida, mas reconhece que precisa desacelerar. Já faz planos sobre isso.

No pouco tempo livre que tem, almoça com a mãe Sueli aos domingos, depois do programa na Rádio Miriam, que assumiu com a morte de Ricardo Ló, e cumpre sua paternidade com Bernardo Luigi, do casamento que manteve com Ângela Debastiani. Segundo ele, atualmente “o coração está ocupado com o trabalho”.
Filó
Já que o foco é a tradição, impossível não falar da propagação da cultura italiana pelo grupo que ele preside e do qual é sócio benemérito, o grupo de Filó, a Associação Cultural Nei Tempi Del Filó, que em 2022 completou 23 anos. “Como presidente abro espaço para estes artistas mostrarem a cultura que abraçou todas as outras na nossa região e isso é de extrema importância! Vê-los entrando no Troféu Lojista deste ano me encheu de orgulho”, enfatiza.

Por saber do valor de manter a tradição, Adamatti é conhecido no Estado todo pela preservação dos hábitos e da cultura italiana, tanto que ajudou o Talian, a língua que chegou com os primeiros imigrantes italianos, a ser aprovada como segunda língua oficial de Farroupilha. “Precisamos manter o Talian, que aprendi com o pai e com a mãe e que me fez aceitar a apresentação do programa da Rádio Míriam, o Comme Noantri No Ghene Altri, com o qual me divirto muito”, diz.
Adamatti também cuida de toda a parte burocrática da Associação que preside.
Seja à frente das câmeras, ao microfone da rádio ou acompanhando o grupo de Filó, este comunicador carismático, de personalidade amigável, vai deixando sua marca na tradição da cidade que completa 89 anos. Quem não conhece Leandro Adamatti, afinal?