Nova Milano: a guardiã do tempo

Rosana MarinaEscritora, professora, designer gráfica, pesquisadora da arquitetura e imigração italiana@professodesign Para quem não conhece Nova Milano, é possível se

Rosana Marina
Escritora, professora, designer gráfica, pesquisadora da arquitetura e imigração italiana
@professodesign

Para quem não conhece Nova Milano, é possível se conectar com o que a precede ao anunciar o seu mérito: Berço da colonização italiana!

De imediato, a imaginação visita histórias, recorda o dialeto, traz a lembrança da arquitetura, as experiências com a comida e, claro, a associação espontânea entre o italiano e o trabalho.

Quando se fala em Nova Milano, essas conexões se intensificam, florescem e ganham uma dimensão de encantamento que se sente diante da expectativa de conhecer o que não se viveu, senão pela fala do outro!

Nova Milano é emocionante: a praça com a igreja inaugurada em 1920, local onde os três primeiros imigrantes italianos – Stefano Crippa, Luigi Sperafico e Tommaso Radaelli. – escolheram para concretizar seus sonhos!

No local, podemos nos deter diante do obelisco, da réplica dos passaportes dos três imigrantes e, da praça do outro lado da rua, uma casa que guarda a história – o Museu da Bea (Beatriz Bergamo Flach), bisneta do imigrante Stefano Crippa.

Bea, juntamente com a sensibilidade do marido Ilário Flach, organizou um museu no espaço, que foi, desde 1884, o Armazém de Secos e Molhados da família. O museu apresenta utensílios domésticos, ferramentas de trabalho, soluções remanescentes deste tipo de comércio, como as tuias para armazenar grãos, as balanças e o mobiliário peculiar da época, típico destes estabelecimentos.

Tudo ali é impressivo: os objetos, a organização, o brilho nos olhos da Bea e do Ilário ao apresentarem cada peça e a empolgação com que respondem às perguntas.

A luz que projeta sombras cria um ambiente propício para nos transportarmos ao passado. As horas neste ambiente não existem. Até o relógio centenário se calou! O momento de despedida é sempre adiado e nunca acontece sem a promessa de um retorno!

Somos acompanhados pelos passos lentos de Ilário, pelo carinho da Bea e, ainda na soleira da porta, o sentimento de gratidão nos visita.
Levamos conosco a imagem bucólica, poética do casal com o olhar preso à nossa partida, como quem, com saudade, se despede dos seus afetos!

A Casa Crippa

A vontade é de se acomodar num banco da praça e, alheio ao tempo, ali permanecer, tocando, experimentando, com o olhar, a textura da edificação. É impossível não se deter nos detalhes que sobressaem na platibanda, seguir, com os olhos, o coroamento curvo, centralizado, ou se surpreender com a ordem e funcionalidade do volume de geometria simples da fachada: cinco vãos na parte superior e cinco na inferior, todos com vergas retas e esquadrias de madeira de desenho simples. E as marcas do tempo – uma fissura aqui, outra acolá – o que teriam a nos contar? Pena que o Entrai não inseriu este contexto histórico aos festejos. A casa Crippa ficou isolada, calada, esgueirando-se entre os estandes. Bea e o Ilário não podem ver a festa que, justamente este ano, também celebra os 150 anos da tradição da imigração italiana no RS, que começou diante de casa!

Beatriz Bergamo Flach e Ilário Flach. Foto: Rômulo Menegas