Adelino Colombo, o dom do comércio é dele

Entrevista e edição: CLAUDIA IEMBO claudia@ofarroupilha.com.br — Pilates três vezes por semana, cuidados com a alimentação, graça de Deus e

Entrevista e edição:
CLAUDIA IEMBO
claudia@ofarroupilha.com.br

Pilates três vezes por semana, cuidados com a alimentação, graça de Deus e um prazer por exercitar o cérebro, aceitando os desafios do mundo dos negócios. É desta forma que o idealizador das Lojas Colombo se mantém à frente de sua empresa. Eu seria incapaz de ficar em casa, jogar cartas ou sentar à praça, confessa, iniciando a conversa que tivemos, para a qual fui recebida com muita cordialidade.

Em sete décadas de trabalho, Adelino Colombo viajou quase o mundo inteiro, conheceu pessoas diferentes e fez negócios, muitos negócios, transformando sua empresa em uma das maiores redes varejistas do país, com 248 lojas e 4.500 colaboradores. Nada mal para o jovem, filho de agricultores de Nova Milano, que tinha o sonho de trabalhar em um armazém porque admirava quem ficava atrás de um balcão!

Por conhecer boa parte do mundo, menciona os lugares que mais chamaram sua atenção, como Singapura, Dubai e Paris, mas quando elege o melhor, não titubeia. Farroupilha! A cidade da gente é sempre a melhor, diz sem conter o sorriso.

Otimista convicto, mesmo com as adversidades dos piores anos vividos – segundo ele, 2015, 2016 e 2107 – Adelino diz acreditar no amanhã. Nós estamos trabalhando, cientes de que não é momento para fazermos dívidas, mas ainda assim estamos procurando crescer, abrindo novas lojas e administrando com confiança, mesmo com a baixa nas vendas. Não implanto a crise dentro da minha empresa. Nunca me esqueço que li certa vez uma placa que dizia: não fale em crise, trabalhe. É o que fazemos, explica.

Tino comercial

Experiência sobre crescer em tempos difíceis, as Lojas Colombo têm. Depois da década de ouro, a de 70, entramos em um período de alta inflação, de crises, de congelamentos, enfim, uma confusão no mercado econômico, o que fez com que empresas importantes do meu ramo desaparecessem. Os anos 80 foram considerados a década perdida e para nós esta década perdida foi simplesmente a melhor, anos em que mais crescemos, conta.

Adelino Colombo experimentou todas as mudanças ocorridas no cenário político-econômico nestes 70 anos de vida no comércio. Acompanhou a evolução no comportamento dos consumidores e fala sobre isso. Os tempos são outros hoje! Há uma diferença fantástica porque há 70 anos as famílias eram maiores, com maior número de filhos, os operários ganhavam pouco e o consumo era baixo: não havia geladeira, não havia fogão a gás, automóveis apenas dois ou três! Hoje é tudo muito diferente, ressalta o empresário.

Falando em eletrodomésticos, Adelino – que começou a trajetória impulsionado pela confiança do pai, que foi avalista do dinheiro que precisava para comprar o primeiro armazém de sua história, aos 24 anos – descobriu o gosto por eles inicialmente com as vendas de geladeiras e de máquinas de costura Singer, que faziam parte dos enxovais das noivas da época. Em todos os momentos, a perspicácia de comerciante estava presente. Eu ia ao cinema, prestava atenção aos casais e no dia seguinte estava na casa da família da moça, oferecendo a máquina de costura para o enxoval, relembra sorrindo.

O dom para o comércio ganhou proporções ainda maiores com a chegada da televisão. Em 1964, apareceu um senhor que me propôs fazer um teste na loja com uma TV. Ele queria saber se a imagem pegava bem por aqui. Colocamos a TV na porta da loja e simplesmente fechamos a rua de tantas pessoas que pararam para ver a novidade. O produto deu um boom em nossa empresa, menciona.

Assim como prestava atenção aos casais para executar as vendas das máquinas de costura, batia às portas das famílias que tinham filhos, pois sabia que a venda da televisão era certa com a presença das crianças! Conheceu Caxias do Sul de ponta a ponta ofertando televisores e desta forma abriu sua primeira filial naquela cidade. Desde então, não parou mais. 

Conselhos de mestre

Seja em qual atividade for, você precisa ser um profissional conhecedor do que vai fazer, não pode ser mais um, tem que ser o melhor, se especializar no seu assunto porque não há outro jeito de crescer a não ser pelo conhecimento, trabalho e muita economia. A faculdade da vida é a minha! Quando a pessoa quer aprender, aprende, ensina.

Ele assimilou a lição com mérito. Construiu sua empresa e sua família, composta por quatro filhos, 10 netos e um bisneto, ao lado da esposa Ruth, que desde cedo trabalhou ao seu lado, sendo parceira nas decisões do marido. Nossa opção sempre foi fortalecer a empresa, então sempre tivemos uma vida moderada, simples. Não tenho apartamento em lugar nenhum, não tenho fazenda, nunca tive os melhores carros. O sonho da minha esposa era ter uma casa própria e ela esperou 25 anos para isso porque tivemos um apartamento nosso em nossas bodas de prata! Mas agora a esposa tem uma boa casa, para compensar, sorri.

Adelino entrega mais. O ser humano precisa saber ganhar e gastar dinheiro. Saber gastar não é gastar muito, mas também não é gastar muito pouco. Sempre digo que precisamos aproveitar o dia da melhor maneira possível, com alegria e com disposição.

Fazer o bem

Durante a conversa, expressei minha admiração por ele ser uma pessoa muito simples, muito próxima, sendo o empresário que é. A resposta foi automática. Todos me dizem isso, mas por que ser diferente? Qual é a razão? Somos todos mortais e não vamos levar nada daqui, por isso precisamos valorizar a amizade e eu tenho amigos! Temos uma confraria de seis casais e a cada mês fazemos um encontro na casa de cada um. Gosto muito disso! Outra coisa importante: sempre procurar fazer o bem a alguém, o que me alegra muito. Nossa empresa formou um médico em Caxias do Sul, que concluiu o curso com mérito. Eu estava na praia e li no jornal que a família, da colônia, não tinha condições de pagar a faculdade e por isso ele fazia uma matéria por ano. Nós assumimos a faculdade dele. Fui padrinho na formatura, conta orgulhoso.

Como um fato lembra o outro, a recordação do rosto de duas crianças ficou gravada dentro dele, em determinada ocasião. Eu gostava de caçar na fronteira e em um dia frio paramos para comer um pastel. Olhei para fora e vi dois meninos. Chamei e perguntei se queriam pastel. Um ou dois para cada um? Dois. Café ou coca-cola? Coca. Eu nunca vou esquecer do semblante daqueles meninos comendo pastel, acrescenta o homem que ganhou todos os prêmios instituídos na área comercial – 270 ao todo – e ainda assim é gente como eu e você, que para na estrada para comer um pastel e tomar um café.

Sobre os prêmios, Adelino Colombo confessa que o mais importante para ele é a comenda de Mérito Farroupilha, a distinção máxima da Assembleia Legislativa do Estado destinada às pessoas que contribuíram para o desenvolvimento econômico, social e cultural do Rio Grande do Sul.

O rapaz que sempre quis ser advogado diz que nunca imaginou chegar a este ponto. Eu sempre tive vontade de estudar, queria ser advogado, era um sonho, que acabei de certa forma realizando quando fui paraninfo de uma turma de economistas da Unisinos, porque até a beca cheguei a vestir! Fiquei muito feliz!, confessa.

Não planejou tanto para si, mas trabalhou e ainda trabalha muito. Dois netos seus estão na empresa para que sua expectativa em relação ao amanhã se cumpra. Quero perpetuar minha empresa. Tenho dois netos dentro dela, que vão subir mostrando trabalho, afirma o gestor.

Na sabedoria dos seus 86 anos, declara-se satisfeito com a trajetória percorrida, principalmente pelos empregos gerados, pelas famílias que, direta ou indiretamente, dependem das Lojas Colombo. Sinto muita satisfação por isso, mas não me sinto realizado. Realizado nunca, porque sempre haverá algo a mais a ser feito, conclui o homem que edificou um império, sem perder a humanidade.